TALENTO NOS DEDOS
>> Albir José Inácio da Silva
O leitor deve estar pensando em pianista, flautista, violonista ou qualquer outro artista que use as mãos para encantar a humanidade. Mas não é bem isso.
Em certo momento da minha vida, da minha adolescência pra ser mais preciso, eu aprendi datilografia. Não sei até quando se vai saber, mas hoje ainda se sabe o que é isso. O teclado da máquina de escrever está contido no do computador, bastando expurgar deste dezenas de teclas que naquela época não teriam nenhum significado. Saber datilografia dava um status que não pode ser comparado ao conhecimento de informática de agora. Digitar todo mundo sabe. O computador está nas casas, nos quartos das crianças, nas salas de aula, nas mesas de bar e no colo das pessoas em ônibus, trens e aviões.
Datilografar significava ser especial. E mesmo os que sabiam datilografia não eram todos iguais. Media-se o datilógrafo por toques — toques por minuto. Eram respeitados os que conseguiam cento e oitenta, duzentos, duzentos e vinte toques por minuto. Dos maus datilógrafos, dizia-se que catavam milho.
Eu catei milho por muito tempo até que, envergonhado e com muito esforço, cheguei aos cento e oitenta toques. Poucas coisas fizeram tão bem a minha alma. Eu não era datilógrafo nem havia muita coisa para datilografar no meu trabalho, mas eu inventava as oportunidades de mostrar a minha técnica. Técnica não, o meu talento de cento e oitenta toques.
Claro que isso foi de alguma utilidade. Os empregos mais cobiçados da época — multinacionais, empresas públicas e de economia mista — usavam a datilografia como prova de corte. Só os aprovados nessa “arte” estavam aptos a continuar no certame. A maioria dos aprovados, entretanto, depois da posse, jamais voltaria a se sentar na frente de uma máquina.
O mau uso do computador ainda não me atingiu suficientemente os brios para que eu redobre os esforços e melhore a técnica. E os estudos de datilografia não têm hoje qualquer utilidade. Mas confesso que tenho de disfarçar o orgulho quando ouço: “ele digita com todos os dedos!”. Não sei se as pessoas aprendem isso nos cursos de informática, mas só quem estudou datilografia sabe o verdadeiro significado da expressão: com todos os dedos.
Acho que hoje o que eu faço é datilografar no computador. Viu como foi melhor que essa crônica não fosse sobre música? Eu acabaria batucando no piano.
Em certo momento da minha vida, da minha adolescência pra ser mais preciso, eu aprendi datilografia. Não sei até quando se vai saber, mas hoje ainda se sabe o que é isso. O teclado da máquina de escrever está contido no do computador, bastando expurgar deste dezenas de teclas que naquela época não teriam nenhum significado. Saber datilografia dava um status que não pode ser comparado ao conhecimento de informática de agora. Digitar todo mundo sabe. O computador está nas casas, nos quartos das crianças, nas salas de aula, nas mesas de bar e no colo das pessoas em ônibus, trens e aviões.
Datilografar significava ser especial. E mesmo os que sabiam datilografia não eram todos iguais. Media-se o datilógrafo por toques — toques por minuto. Eram respeitados os que conseguiam cento e oitenta, duzentos, duzentos e vinte toques por minuto. Dos maus datilógrafos, dizia-se que catavam milho.
Eu catei milho por muito tempo até que, envergonhado e com muito esforço, cheguei aos cento e oitenta toques. Poucas coisas fizeram tão bem a minha alma. Eu não era datilógrafo nem havia muita coisa para datilografar no meu trabalho, mas eu inventava as oportunidades de mostrar a minha técnica. Técnica não, o meu talento de cento e oitenta toques.
Claro que isso foi de alguma utilidade. Os empregos mais cobiçados da época — multinacionais, empresas públicas e de economia mista — usavam a datilografia como prova de corte. Só os aprovados nessa “arte” estavam aptos a continuar no certame. A maioria dos aprovados, entretanto, depois da posse, jamais voltaria a se sentar na frente de uma máquina.
O mau uso do computador ainda não me atingiu suficientemente os brios para que eu redobre os esforços e melhore a técnica. E os estudos de datilografia não têm hoje qualquer utilidade. Mas confesso que tenho de disfarçar o orgulho quando ouço: “ele digita com todos os dedos!”. Não sei se as pessoas aprendem isso nos cursos de informática, mas só quem estudou datilografia sabe o verdadeiro significado da expressão: com todos os dedos.
Acho que hoje o que eu faço é datilografar no computador. Viu como foi melhor que essa crônica não fosse sobre música? Eu acabaria batucando no piano.
Comentários
Fiz 257 por minuto. :)
E, quem disse que você não falou de música?
Existe maior encanto que aquele que as palavras nos trazem?
Com todos os dedos você musicou as letras de um passado que me traz boas lembranças. Obrigada!
vou fazer o teste. Mas me confesso preocupado com o resultado.rs...
Fernanda,
não se preocupe, sua escrita não se ressente da falta de dedos.
Julieta,
você é que é musical.
Marisa,
tempo bom, né? Bjs.
Eu sofri horrores datilografando, sou autodidata nessa área. Não funcionou muito bem, e não teclo com todos os dedos. Deve ser não apenas musical, mas digno de se apreciar a coreografia dos dedos.