Ela come areia, rasga cartas, engole pedras (pequenas, mas engole). Ela quebra os eletrônicos, besunta-se de cocô, acorda inteirinha molhada de xixi. Ela finge que vai te beijar e morde tua bochecha. Morde teu nariz e quase arranca a pele da tua mão com seus pequeninos dentes. Ela anda na ponta dos pés, corre até cair, dança pra ficar tonta. Ela grita, chora, ri e esperneia em altíssimos decibéis. Ela enfia o dedo na tomada, pega abelha com a mão e abraça – forte – o rottweiler desconhecido. Ela bate no amigo, no inimigo e estapeia a mãe. “Não pode!”, gritamos, incansavelmente. Ela ri seu riso malandro e disfarça olhando pra cima. Ela fala um idioma próprio, puxa os próprios cabelos e tenta arrancar as próprias orelhas. Ela pula na pisicina, no mar ou na privada. Onde houver água, ela se joga. Ela fecha o próprio dedo no armário, depois na gaveta, e depois na porta. Ela beija o espelho, o copo de requeijão e a planta. Ela come sabão, cospe água e engole pomadas de
sua dose diária de conversa fiada