às vezes penso na frivolidade da escrita, sobretudo quando me sento diante da tela e tento, imaginem!, trabalhar, mas há uma cidade inteira morta: são carlos, foz do iguaçu, ou imperatriz, chegar até uma cidade inteira morta, mais de duzentos e cinquenta mil corpos, desprotegidos, expostos, desarmados, é concebível?, alguns amigos, como se estivessem nesta cidade inteira morta: enio, sr. dimas, mortos nesta cidade inteira morta, aí tento rabiscar algo, a mão hesita, não quer, não precisa, a mão, as mãos, se adaptam à cabeça, como se ela precisasse de apoio, e precisa, badernam o cabelo que nem penteio mais, e a única palavra que balbucio é vergonha, ou medo, ou catástrofe, ou desgraça, ou saudade, mas uma de cada vez, tento escrever um conto: vergonha medo catástrofe desgraça saudade vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha uma cidade inteira morta, helena, e só posso chorar estes mortos.
sua dose diária de conversa fiada