Sonhei com bailarinas — delicadamente despenteadas — a sapatear sobre poças. Seus olhares eram brilhantes como o sol que despontava de fundo, clareando um cenário de saltos e rodopios. Não havia música... Ouvia-se somente a respiração compassada das bailarinas, como fossem palavras arrancadas de seus segredos. Eu estava sentada numa cadeira, defronte ao espetáculo, as pernas cruzadas e a paciência ao meu lado, apontando os melhores momentos das meninas que tanto diziam sem mexer seus lábios; que faziam seu show de dança ainda que na falta de música. A paciência, que em meu sonho era uma senhora muito educada e sábia, sorria o tempo todo. Eu não... Os lábios contraídos, a feição remexida pela preocupação, os dedos tamborilando sobre os braços da cadeira. Ela me explicava que aquelas bailarinas eram de uma coleção de porcelana de uma mulher que viveu há muito tempo e que, depois de deixar seu corpo físico, resolveu morar nas suas pequenas companheiras. Então, apesar de tantas baila
sua dose diária de conversa fiada