CONFIDÊNCIAS AO DIÁRIO... >> Carla Dias >>

Descasquei uma laranja que tinha a casca tão verde quanto a blusa que eu vestia. Foi um frenesi que surpreendeu meu olhar acostumado a reconhecer combinações no improvável conduzido pelas asperezas. O sabor não era o mesmo que minha alma vem ruminando. A laranja estava doce, deleitável. Compartilhei da companhia do silêncio para apreciar tempo. Foram sete minutos de tentativa de meditação. Mas quem consegue meditar quando se tem uma mente dedicada aos pensamentos gritantes? Nem sempre corteses, tampouco lineares, raramente esclarecedores. Depois de sete minutos, senti-me contagiada por um cansaço e seus fiapos de ironia. Eu sabia que deveria evitar contato, declarar fuga e sair do recinto, onde se contorciam as tentativas vãs. Porém, se há alguém que se permite seduzir com facilidade por dores e horrores, esse alguém é eu. Esparramei-me, então, por sete horas de abandono. Minha biblioteca de tentativas vãs disputa espaço com a coleção de amores que não vingaram, de fantasmas