O legal naquela época era morar a cinco quadras da escola, poder andar de bicicleta pela rua sem temer um atropelamento, conhecer todos os vizinhos da mesma faixa etária, sumir durante uma tarde inteira sem que isso preocupasse nossas mães e, naturalmente, ter a sensação de que o bairro inteiro era uma grande família. Uns ajudavam os outros, uns se metiam na vida dos outros, uns controlavam as ações dos outros e no final da noite todo mundo sabia qual marido se esbaldava no puteiro. A vida era boa. Então importaram algumas pragas: o shopping center, o condomínio fechado, o playground do prédio, as prestações a perder de vista e a violência. No fundo todos sabiam que não dava para viver de Toddynho a vida inteira. No interior imaginavam que as coisas iam bem, que isso era coisa da capital, mas era evidente que uma hora o mercado se saturaria e a caravana seguiria para as cidades pequenas. Daí para o sequestro relâmpago e os assaltos a mão armada acontecerem em uma minúscula cidade do
sua dose diária de conversa fiada