DE MOCHILA >> Mariana Scherma
Voltei
a estudar. Já fazia algum tempo que a vontade de sentar na sala de aula batia à
minha porta, mas eu ignorava como se fosse uma daquelas visitas que chegam bem
na hora do almoço (sem ser convidadas, óbvio), repetem a sobremesa e tomam
conta da sua tevê. Esse ano optei por deixá-la entrar, fiz minha matrícula e
tive minha primeira aula na pós-graduação. Quanto diferença e quanta semelhança
com todos os meus primeiros dias de aula.
Quando
eu era criança (e depois já adolescente), não dormia na noite anterior de
ansiedade. Pensando se ia conseguir pegar o primeiro lugar na fileira da janela
(ãham, sou dessas que sentam na primeira carteira. Quanto mais perto do
professor, melhor. Só não sou puxa-saco, sem chance!). Quando superava o
problema da localização, pensava na calça jeans, no tênis... Superada a questão
do figurino, olhava outra vez para o meu estojo (que tinha sido arrumado
semanas antes), com minhas canetas preferidas com cheirinho e tinta néon. Aí
vestia a mochila e ia me olhar no espelho. Sempre amei uma mochila. Até hoje
viajo de mochila, dá ares de estudante, de gente que desbrava o desconhecido
sem medo, só com empolgação. De gente que sempre quer aprender sobre a vida.
Nesse
meu primeiro dia de pós, quanta diferença. Na noite anterior, eu capotei, dormi
feito uma pedra (se pedra dormisse...). E, antes da aula, joguei na mochila um
caderno que havia ganhado há tempos e fui. Chegando lá, lembrei que não havia
canetas, mas achei uma perdida nos profundezas da mochila, deveria estar junto
com algum sonho esquecido. É, eu superei o vício em material fofinho de papelaria,
quem diria?
Ainda
no primeiro dia de pós, me vesti rápido. Optei pela roupa mais confortável,
pelo sapato que se ofereceu primeiro pra sair do guarda-roupa e estava ótimo.
Maquiagem? Fui de protetor solar e batom. Uma diferença absurda das inúmeras
olhadas de espelho na adolescência e daquela necessidade de ir bonita, mas sem
parecer exagero, de querer impressionar o menino que eu ainda nem tinha
conhecido. Foi aí que percebi que a insegurança da adolescência ficou lá no comecinho
dos anos 2000. Eu tinha aprendido uma lição importante e nem percebi: a gente é
o que a gente é, não só o que vestimos. Minha mãe me disse isso umas 2.890.228
vezes quando tinha meus 13, 15 anos. Mas, como toda adolescente, achei que ela
não me entendia, que não sabia das coisas. Rá!
Quando
encarei meu primeiro dia na faculdade, também encarei a mudança de cidade, a
saída da casa dos meus pais e o fato de que todos os meus amigos não iam
comigo. Meu maior medo foi que a nova turma não gostasse de mim. Bobagem. Fiz
amigos incríveis já no primeiro dia e que levo comigo ainda hoje (não só no
Facebook). Na noite anterior da pós, nem pensei muito se as pessoas iam ou não
gostar de mim. Tinham direito de não gostar, assim como não gosto de um ou
outro por aí (tipo Lulu Santos: não desejo mal a quaaase ninguém). Outra
surpresa: de cara, conheci gente bem legal, se vão virar amigos só o tempo vai
dizer. Em todo caso, estão devidamente adicionados no Face.
Apesar
de nessa volta às aulas eu não ter caprichado na letra pra deixar o caderno
sempre lindo (impressionante como a gente fica com a letra mais feia depois de
digitar tanto, né? Você também?), eu continuo adorando o gostinho de caderno
novo, coisa nova que aprendemos, gente nova que entra em nossa vida. Vai ver o
segredo da felicidade é conseguir engarrafar essa sensação. Se não der pra
engarrafar, o jeito é ir buscá-la na pós-graduação e dentro de gente mesmo,
todo santo dia. E buscá-la de mochila nas costas porque soa mais aventureiro.
Comentários
Deu saudade dos tempos de escola,
quando não havia programa melhor do que ir à papelaria para escolher as canetinhas cheirosas e os cadernos coloridos...
Beijos!
livros e cadernos novos sempre me remetem a essa sensação, mesmo num curso de pequena duração ou numa capacitação profissional. Acho que rejuveneço.