A MENTIRA >> Whisner Fraga
Os dedos da criança peregrinam pelo dorso da maçaneta. As máquinas estão sob controle e não espalham ameaças pela tarde imponderada. O pai observa a curiosidade mística da filha, próxima ao mecanismo desacordado. Engrenagens sonolentas também espreitam mãos que brincam. E logo o trinco ferroa a carne e um veio de sangue se infiltra na solidez precária da segurança. O pai acode o desespero da filha, mas não está preparado para a investida da dor contra a idade vulnerável. Por enquanto não percebe que estamos expostos e estaremos para sempre apenas nos desviando da fatalidade. Ela só desejava a suavidade do banco veludoso massageando as costas e a porta do carro a apartava dessa ganância. O pai recolhe o corte em uma calma premeditada e aloja a ferida na barra da camisa, tentando estancar o medo. O dia resiste em sua alegria desafeiçoada. Por que não se atormentam mais com a angústia de outra pessoa? Por que ninguém se acerca, se compadece, oferece uma fatia de h