Roça o dedo no vidro da janela e desenha letras, chegando à palavra “efeméride”. Gosta tanto dela, ainda que caçoem dele os primos e os amigos da escola, porque não entendem como moleque feito ele pode entender o significado de palavra tão difícil de ser dita... Ao menos por eles. Mas acontece que o significado é o de menos, e ele não o entende muito bem. O que mais lhe atrai na palavra é o som, como se ao dizê-la entoasse a mais bela melodia. Não é à toa que deu nome de Efeméride à sua gata. Gosta de chamá-la, e o faz em diversos tons, compondo uma ária de entendimento consigo mesmo. Obviamente, desagrada-lhe que os primos e os amigos de escola caçoem tanto dele. Porém, o menino sabe que o fazem porque querem mantê-lo afastado, querem que ele se sinta sempre desconvidado aos eventos em comum. Sua mãe, uma doce mulher com tendência à melancolia, é também quem alimenta o mantra “você foi escolhido e precisa cuidar bem do seu dom”. Na verdade, o menino queria mesmo era soltar pip
sua dose diária de conversa fiada