EU MESMA, PRAZER! >> Carla Dias >>
Sr. Nilson é professor de matemática. No primeiro dia de aula, deixou bem claro, arqueando as grossas sobrancelhas, que não permitiria que os alunos o chamassem “Sr. Wilson” ou “Sr. Nelson”. As crianças arregalaram olhos para o homem severo, vestido em panos simples, mas impecavelmente lavados e passados. A partir daí, dizer o nome do professor se tornou uma jornada perigosa, porque vai que ele decide aplicar castigo tão severo quanto o seu olhar!
O parágrafo acima mistura um tantinho de ficção com a realidade da minha sobrinha, a quem prometi ligar para saber como foi o primeiro dia de aula de 2012. A primeira coisa que ela me contou foi sobre o professor que não queria que o chamassem por outro nome que não o dele, e a forma como ela expôs a questão me levou a imaginar como seria se eu fosse um dos alunos e errasse o nome do Sr. Nilson, porque está bem claro que isso o enerva um tanto.
Neste ponto da crônica, sou obrigada a confessar que sou péssima com nomes. Já pensei em ter problema sério nesse quesito, em precisar tomar remédio, porque eu troco até os nomes de pessoas com quem convivo. Há quem diga que é pura distração, mas não é que eu desconheça a pessoa. É capaz de eu saber a data do nascimento do gatinho mais novo da ninhada que a pessoa adotou, e ainda trocar o nome dela.
A forma que encontrei de ligar o nome à pessoa e garantir que não comecem a achar que é desleixo diplomático, foi me lembrar do que é mais fácil para mim: as histórias que elas me contam, pessoais ou profissionais. É como se o nome deles fossem títulos, sabe? Exemplo: a moça que encontro, uma vez por ano, em um evento de música, é a Leila, aquela que faz brigadeiro para vender para a família que é “enooooorme”, e assim espera fazer fortuna. E o Marquinhos, aquele que gosta de colecionar manchetes de jornal do primeiro dia do ano. Ele tem um scrapbook que guarda quase uma década de manchetes.
Há o outro lado da moeda, a outra metade da laranja, o ponto de vista alheio. Desde que me conheço por gente as pessoas trocam o meu nome. Talvez eu não tenha cara de Carla mesmo, pois essa é a desculpa que sempre me dão. O acontecimento é tão constante que, em alguns lugares que frequento, eu parei de corrigir. Sendo assim, sou Marta, Claudia ou, e principalmente, Sandra. Definitivamente, para a maioria o meu nome deveria ser Sandra. A atendente da locadora de vídeos que frequento há quase dez anos aprendeu a me chamar de Carla no ano passado. Demorei a atender por Carla quando ela me chamava. Naquele lugar, eu fui Sandra por muito tempo.
A única diferença entre mim e a maioria das minhas vítimas da troca de nome, e o Sr. Nilson é que eu realmente não me importo. Obviamente, eu adoraria que aquela pessoa que admiro muito, um ídolo até, lembrasse do meu nome. Neste caso, também do sobrenome, para que ele pudesse encontrar meu e-mail no planeta virtual e me escrever, de vez em quando. E seria perfeito se aquele moço, para quem ando lançando poesia no papel, soubesse que o meu nome é o meu nome mesmo. E para os registros, claro, porque ninguém merece ter nome trocado em documento.
Sem contar que, com tantas opções, não há como não me imaginar Claudia: a louca por sorvete em dia de frio. Márcia: a chorona que se emociona com filmes baseados nas obras de Jane Austen. Sandra: a louca por filmes e séries de tevê. Carla: todas as anteriormente citadas, mais algumas outras.
Comentários
E o que aconteceu com o professor?
ai ai...sei não...mais acho que essa inconstancia é coisa de Michelle...
:)
:0
Parabéns!:-)
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O professor não é o tema da crônica, apenas o que me inspirou a escrevê-la, depois da conversinha com a minha sobrinha. A crônica fala sobre como eu esqueço/troco o nome das pessoas e não me importo quando esquecem/trocam o meu. Vou perguntar pra minha sobrinha o que houve com o professor e depois te conto : )
Agora, Claudia, Márcia e Sandra são nomes que, usualmente, as pessoas usam como se fossem meu, porque esqueceram que o que me cabe é o Carla. Mas concordo com você, há uma Michelle querendo assinar a crônica, mas eu a proibi! Rsrsrs
Obrigada!
joão vilhena