COLO DE MÃE >> Eduardo Loureiro Jr.
Ah, caro leitor, gostaria de escrever uma crônica que, para ti, fosse como um pesadelo. Que te levasse à infância, ao encontro de teus amiguinhos mais queridos, aqueles capazes de ter dar as maiores menores alegrias e os menores maiores desprazeres. Que te pegasse assim desprevenido em meio a um jogo, uma brincadeira, e te cutucasse a ferida com frases certeiras, daquelas que saem rápidas de alheias línguas afiadas e ficam engasgadas eternamente em tua garganta. Que te deixasse assim sem pé nem cabeça, só coração. Que te paralisasse, que te desmemoriasse, que te batesse, espancasse, mais de 160 vezes por minuto. Que te fizesse esperar, medroso e silente, a poeira baixar só um pouco, e te fizesse vagar, passos lentos, mal despregados do chão, por quarto e sala e quintal e varanda com os olhos afundados na terra.
Ah, caro leitor, gostaria de escrever uma crônica que, dentro da crônica, fosse para ti um chamado, a princípio apenas um fraco sussurro diante de tua surdez ensimesmada. Que pronunciasse teu nome com a doçura do apelido de infância. Que te entrasse nos ouvidos feito o mar que se desentranha da concha, para tua surpresa. Que te fizesse levantar os olhos, embora a cabeça estivesse ainda baixa. Que te levasse a virar levemente o rosto, embora o corpo ainda estivesse arqueado. Que te permitisse reconhecer a voz, ao mesmo tempo em que o vulto, de tua mãe. Que te dissesse, triste contigo, mas com um pequeno sorriso daqueles que guardam uma ou duas surpresas nas dobras do vestido: "Vem aqui para o meu colo".
Ah, caro leitor, gostaria de escrever uma crônica que, nascida da crônica, fosse para ti um sonho, mesmo que a princípio distante. Que duvidasses, mas não muito. Que aprumasses teu corpo com alguma esperança. Que desses pequenos passos na direção do olhar que continuaria te chamando. Que te desse força, mas que te amolecesse os pensamentos, a garganta, o coração. Que te fizesse chegar até o cheiro que tão bem conheces. Que te fizesse balançar e cair suavemente, em câmera lenta, sem gravidade, como uma folha que pousa, cansada de tanta secura, no chão de um pátio. Que te fizesse caber do lado de fora de um corpo dentro do qual já coubeste. Que te aconchegasse num abraço que só pode ser para sempre. E que te fizesse chorar por todos os teus pesadelos não chorados.
Ah, caro leitor, gostaria de escrever uma crônica que te acordasse, ainda soluçando. E que te fizesse dizer, sem palavras mas com o corpo todo: "Obrigado, minha mãe. Muito obrigado.".
Ah, caro leitor, gostaria de escrever uma crônica que, dentro da crônica, fosse para ti um chamado, a princípio apenas um fraco sussurro diante de tua surdez ensimesmada. Que pronunciasse teu nome com a doçura do apelido de infância. Que te entrasse nos ouvidos feito o mar que se desentranha da concha, para tua surpresa. Que te fizesse levantar os olhos, embora a cabeça estivesse ainda baixa. Que te levasse a virar levemente o rosto, embora o corpo ainda estivesse arqueado. Que te permitisse reconhecer a voz, ao mesmo tempo em que o vulto, de tua mãe. Que te dissesse, triste contigo, mas com um pequeno sorriso daqueles que guardam uma ou duas surpresas nas dobras do vestido: "Vem aqui para o meu colo".
Ah, caro leitor, gostaria de escrever uma crônica que, nascida da crônica, fosse para ti um sonho, mesmo que a princípio distante. Que duvidasses, mas não muito. Que aprumasses teu corpo com alguma esperança. Que desses pequenos passos na direção do olhar que continuaria te chamando. Que te desse força, mas que te amolecesse os pensamentos, a garganta, o coração. Que te fizesse chegar até o cheiro que tão bem conheces. Que te fizesse balançar e cair suavemente, em câmera lenta, sem gravidade, como uma folha que pousa, cansada de tanta secura, no chão de um pátio. Que te fizesse caber do lado de fora de um corpo dentro do qual já coubeste. Que te aconchegasse num abraço que só pode ser para sempre. E que te fizesse chorar por todos os teus pesadelos não chorados.
Ah, caro leitor, gostaria de escrever uma crônica que te acordasse, ainda soluçando. E que te fizesse dizer, sem palavras mas com o corpo todo: "Obrigado, minha mãe. Muito obrigado.".
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