TORTURA DE SALÃO >> Fernanda Pinho
Se me assaltarem com uma arma de fogo é capaz até de eu
reagir. Impulsiva como sou, não duvido nada. Agora, experimente um meliante me
assaltar com um alicate de unha. Olha, eu entrego até minha alma sem nem
resmungar. Porque tenho horror àquela coisa. Quando amolado então, vade retro,
alicate! E você, que é bom de conclusão, deve estar se perguntando: então como
você tira suas cutículas? Elementar, meus caros. Não tiro! Pra quê? Se eu não
tiro minhas orelhas, minhas pernas ou meus braços fora, por que tiraria minhas
cutículas que são tão parte de mim quanto todo o resto? Pobrezinhas. Estão
aqui, sem causar nenhum dano à minha saúde física ou mental, sem interferir no
aquecimento global ou no movimento das placas tectônicas.
Aliás, minhas cutículas só me fazem bem, pois o fato de não
me incomodarem em nada me poupa perder tempo em salão de beleza. Sério. Eu só
não digo que estar em um salão de beleza é a pior situação social que existe
porque tem os ônibus lotados e as UTI's dos hospitais. Mas podendo evitar, é
sempre bom. Para fazer as unhas (ou seja, pintá-las), só vou em caso de
formatura e casamento (e depende muito de quem é o dono da festa). Normalmente,
me viro bem cuidando disso sozinha. E se fica um pouco borradinho, devido à
minha falta de destreza, ok! Quem se importa? As placas tectônicas continuam
sem se abalar.
O problema é que nós mulheres não somos só unhas. Somos
cabelo, pelos, sobrancelhas (odeio escrever essa palavra), pele e, meu Deus,
por que é tão difícil ficar bonita? Estou particularmente implicada com isso
esses dias. Acho que a idade está me deixando mais impaciente. Minha irmã se
forma essa semana e por conta desse evento tenho horários marcados em três
salões diferentes. Enquanto os homens da família se limitaram a escolher a gravata
que melhor combina com o terno. Três salões é demais para uma pessoa que não
suporta nem um. E ainda tem isso, essa falta de praticidade.
Não basta os salões serem esses estabelecimentos irritantes,
sonoramente poluídos pelas fofocas e ruídos dos secadores, insuportavelmente
aquecido pelas chapinhas, aromaticamente prejudicados pela mistura de tinturas
e acetonas, eles também não conseguem ser multifuncionais. Certo, a maioria dos
salões oferece de tudo. Mas geralmente os profissionais que nos agradam estão
espalhados por aí, impossibilitando a existência do salão ideal. Porque a moça
que te depila sem te fazer urrar não trabalha no mesmo salão do maquiador que
consegue não te deixar com cara de palhaça. E o cabeleireiro que escova seu
cabelo exatamente como você gosta geralmente não trabalha junto com os dois
acima, nem com a manicure que não implica com sua fobia de alicate. Então, além do investimento financeiro e da
tortura psicológica, ficar bonita ainda exige a logística para conseguir
alinhar todos os fornecedores da beleza em nossa agenda. Que raiva da gulosa da
Eva que foi morder aquela maçã. Certeza que essas necessidades femininas fazem
parte dos castigos divinos que estamos cumprindo até hoje (como se ter cólica,
parir e ter celulite não fosse suficiente).
Só espero ser recompensada por todos esses sacrifícios e, se
uma próxima vida houver, voltar como homem. Bem ogro, de preferência (os
metrossexuais que me desculpem).
Imagem: www.sxc.hu
Comentários
Não vá á salão,não escove os cabelos,não pinte as unhas nem tire as cutículas.Problema é da tal da Eva que quis morder a maçã.rsrs
Se se sente bem na "natureba",pq não?e mais,ser mulher é muito bom,principalmente quando nos privamos de todas essas vaidades bobas,:)
Sejamos felizes e,assim como os homens,vamos escolher somente a cor dos sapatos,pra combinar com a roupa
Parabéns pela crônica!
:)
Sua crônica exprime exatamente meus sentimentos.
Parabéns.
Eu adoro comprar esmaltes (e compro muitos), ir até uma manicure boa, tirar as cutículas, lixar, pintar, deixar as unhas lindas - no meu conceito de "lindas", claro - coloridas, brilhantes.
Vaidade, como tudo na vida, só faz mal se for em excesso. Mas se for na medida certa, ajuda, sim, a melhorar o astral. Obviamente que a medida certa de cada um é diferente, e por isso sou a primeira a defender: se não curte, não se obrigue. Importante mesmo é ter o brilho no olhar.
Beijo