E eu que pensava que era o mordomo. Nossa cultura falante e extrovertida sempre desconfia dos calados e misteriosos. Mas o culpado, vejam só, era a própria vítima. Por trás daquela carinha triste -- de dar dó -- estavam as mais perversas intenções, desconhecidas até dela própria. Hoje as vítimas não me dão mais pena, mas me fazem achar graça. E quando a vítima não é sonsa -- e nem lhe passa pela cabeça que ela é que é a culpada -- aí rio a valer. É como uma daquelas comédias antigas em que o palhaço flerta inconsciente e desajeitado com o perigo. Quando alguém faz carinha de pobre coitado, eu já começo a armar meu sorriso. Quebrou o pé porque pisou num buraco? Perdeu o emprego numa demissão coletiva? Foi largada pelo marido ingrato? Tá com vontade de processar a prefeitura, pedir indenização, exigir pensão? Chega, gente. Eu não posso rir demais senão me dói a barriga. Parei de assistir aos telejornais porque prefiro outro tipo de comédia -- mais positiva. E, mesmo rindo, a exposição
sua dose diária de conversa fiada