A FEIRA >> Whisner Fraga
A velha belisca o papo do frango. Desce a mão um tanto mais e para, a tempo. Pechincha que é inadmissível o preço do animal, que não é dia de exploração, que é preciso ter coragem pra vender um bicho daqueles, tão mirrado. Não usa os termos "inadmissível", nem "exploração" nem "mirrado". Eu que os inventei agora, como se tivessem escapado da boca dela. O negociante cede, desenrola o barbante do guidão da bicicleta e entrega o almoço da velha, preso pelos pés, ainda de cabeça para baixo, ainda cacarejando o espanto. Foi um bom negócio. A velha quer batatas também. Reboca as antigas havaianas pelo desmazelo da manhã: sempre chega cedo para encontrar as melhores mercadorias. Conhece todos os sitiantes, mas não os trata pelos nomes. Aponta o maço de coentro e desiste. Os tomates tampouco empolgam. O filho não tolera tempero forte e, por isso, nem cogita levar cebolas. Vai caprichar no molho pardo, mais uma vez. Corre até o fim da feira e ac