VIA DOLOROSA >> Albir José Inácio da Silva
Podia ser um dia comum, mas não era. Não para ele. Não acordou, porque não tinha dormido. Amanheceu. Chegou a hora. Vestiu-se, ouvindo a própria respiração. Olhava a porta e via além dela: a sala branca e fria que nos últimos dias invadiu seu sono. Lá estaria daqui a pouco. Não merecia isso. No caminho, ouviu seus passos como um tambor distante a marcar o tempo. A vida podia ter sido diferente. Nunca recebeu muita coisa da vida. Fazia o possível, o que sabia. Não era uma pessoa especial, mas também não era nenhum monstro. Não merecia aquilo. Recebia conselhos, mas apoio nunca. De nada adiantava pensar essas coisas agora. Pareceu-lhe que todos o olhavam. Uns com pena, outros com indiferença, mas nenhuma solidariedade. Uma solidão como nunca tinha sentido. Se pelo menos sua mãe estivesse aqui, segurando sua mão. Sabia de pessoas que entravam ali sorrindo, desafiavam os presentes com o olhar e enfrentavam com dignidade aquele momento. Não era o seu caso. Nunca foi muito corajoso e não i