VIA DOLOROSA >> Albir José Inácio da Silva
Podia ser um dia comum, mas não era. Não para ele. Não acordou, porque não tinha dormido. Amanheceu. Chegou a hora. Vestiu-se, ouvindo a própria respiração. Olhava a porta e via além dela: a sala branca e fria que nos últimos dias invadiu seu sono. Lá estaria daqui a pouco. Não merecia isso.
No caminho, ouviu seus passos como um tambor distante a marcar o tempo. A vida podia ter sido diferente. Nunca recebeu muita coisa da vida. Fazia o possível, o que sabia. Não era uma pessoa especial, mas também não era nenhum monstro. Não merecia aquilo. Recebia conselhos, mas apoio nunca. De nada adiantava pensar essas coisas agora. Pareceu-lhe que todos o olhavam. Uns com pena, outros com indiferença, mas nenhuma solidariedade. Uma solidão como nunca tinha sentido. Se pelo menos sua mãe estivesse aqui, segurando sua mão.
Sabia de pessoas que entravam ali sorrindo, desafiavam os presentes com o olhar e enfrentavam com dignidade aquele momento. Não era o seu caso. Nunca foi muito corajoso e não ia ser agora. É um absurdo, com todo o avanço da ciência, que ainda não houvesse maneira mais civilizada. Quis gritar, mas a voz não saiu, respirar já estava difícil. Tentou uma oração: — Pai nosso que estais no céu, venha a nós o vosso ventre... — desistiu.
O garrote fez inchar a veia enquanto ele olhava a luz branca do teto. Não sentiu a agulha no braço. Só na alma. Um suor gelado escorreu pelo corpo. A vista escureceu. — Morri?, pensou.
— Acabou — disse a mulher de branco. — Viu como não doeu?
Saiu à a rua e o sol era mais brilhante. Sua vida não era tão ruim, afinal, e hemograma não é o fim do mundo. Nem é todo dia.
No caminho, ouviu seus passos como um tambor distante a marcar o tempo. A vida podia ter sido diferente. Nunca recebeu muita coisa da vida. Fazia o possível, o que sabia. Não era uma pessoa especial, mas também não era nenhum monstro. Não merecia aquilo. Recebia conselhos, mas apoio nunca. De nada adiantava pensar essas coisas agora. Pareceu-lhe que todos o olhavam. Uns com pena, outros com indiferença, mas nenhuma solidariedade. Uma solidão como nunca tinha sentido. Se pelo menos sua mãe estivesse aqui, segurando sua mão.
Sabia de pessoas que entravam ali sorrindo, desafiavam os presentes com o olhar e enfrentavam com dignidade aquele momento. Não era o seu caso. Nunca foi muito corajoso e não ia ser agora. É um absurdo, com todo o avanço da ciência, que ainda não houvesse maneira mais civilizada. Quis gritar, mas a voz não saiu, respirar já estava difícil. Tentou uma oração: — Pai nosso que estais no céu, venha a nós o vosso ventre... — desistiu.
O garrote fez inchar a veia enquanto ele olhava a luz branca do teto. Não sentiu a agulha no braço. Só na alma. Um suor gelado escorreu pelo corpo. A vista escureceu. — Morri?, pensou.
— Acabou — disse a mulher de branco. — Viu como não doeu?
Saiu à a rua e o sol era mais brilhante. Sua vida não era tão ruim, afinal, e hemograma não é o fim do mundo. Nem é todo dia.
Comentários
beijo grande!
Você, com este texto, conseguiu direcionar os leitores, cada qual, para a sua dor mais temida. Impressionante! Parabéns!