O AMANTE >> Albir José Inácio da Silva
Só mesmo a culpa para explicar tamanho desassossego. Ainda faltavam alguns minutos e ele poderia se atrasar como todo mundo. Era um restaurante afastado, que ela mesma sugerira, e as chances de serem encontrados ali eram infinitamente pequenas. Não havia motivo para preocupações. Por outro lado, eram injustificados os escrúpulos dela. Sabia das escapadelas do marido. Tudo apontava para anos de traições: ausências, desculpas, viagens, atrasos e madrugadas. Manchas no colarinho e perfumes alienígenas capazes de condenar um padre franciscano. Além disso, muitas das suas amigas tinham seus casos e ninguém morria por isso. Esses pensamentos, entretanto, não conseguiam tranquilizá-la. Um suor gelado lhe escorria pelas costelas como dedos numa harpa. Não conseguia ficar quieta na cadeira. O outro aparecera inesperadamente. Da primeira vez olhou. Da segunda, sorriu. Da terceira vez ele trouxe uma pétala amassada na mão e seguiram-se outras suavidades que a deslumbraram. Troca de telefone