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AMARELO-ÓBITO >> Ana Raja

Na certidão de óbito, o horário da morte acusava precisamente 20h15 de um domingo fosco. Ninguém mais verá o rosto de Clarice, nem observará o seu jeito de astronauta. Marcos a achava surpreendente. Até para morrer, a esposa pensou na família. Nunca se arrependeu de tê-la escolhido. Ainda se lembra de sua lista extensa de pretendentes. Analisou e experimentou todas, com perícia profissional. Não se casaria com qualquer uma. E ela, a que engravidou aos dezesseis anos, foi a escolhida. Marquinhos — me refiro a ele dessa forma, porque Clarice o chamava assim — começou a repassar em sua mente os detalhes da semana da morte da querida esposa, e se maravilhou com os sinais deixados por ela.  Havia dado um jeito em tudo. “Deus do Céu, a coitada mereceu viver ao meu lado”, repetia o marido, engasgado em um choro duvidoso.  A casa estilo moldura. Espelhos que mostravam os cantos esquecidos. Piso encerado e lustrado indicavam o avesso desconhecido. A comida congelada daria até a missa de sétimo

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