TOCAIA >> André Ferrer

 

IMAGEM: Gemini

O corpo no calçamento e a passagem bloqueada. Foi logo depois da esquina.

O que vinha xingou a surpresa, tossiu para disfarçar e deu um passo atrás, a tempo de evitar um tropeço. Como um fagote, o sem-teto riu e aquele riso era o próprio estertor da dignidade. 

— Hei! Moço — disse ele. — Um minutinho da sua atenção.

Durante uma pausa, esticou o braço, coçou o inchaço da perna, o vermelhão do entorno, a grosseria da casca e, como a folhear um mostruário, tocou em tudo o que era argumento para o seu pedido. Com a mão estendida, ele esperou pelo prêmio.

— É pra comer moço. Beber, eu não bebo não.

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