Foi nas intermediações do Portal do Curral, praia selvagem de mata virgem onde os escravos eram empilhados em porões que submergiam ao sabor das marés afogando os com mais sorte, hoje uma praia deserta com cheiro de sangue africano onde turistas espanhóis de bochechas vermelhas e pêlos raspados nas juntas fazem bacanais de despedida à vista dos pescadores que atracam os barcos e esperam pelo fim do gozo com sabugos de cana-de-açúcar entre os dentes, olhos desconfiados que nunca viram tetas brancas, e havia no meu barco um pescador do tipo bem rústico, pés esfolados com unhas sujas, barba áspera como a casca de um abacaxi, e ele trazia com ele no barco duas crianças, seus filhos, às quais dava ordens curtas e diretas como “fecha a boca senão engole os dentes”, “rapaz, vou dar murro de mão fechada na tua cara se não ficar quieto” e outras um pouco mais delicadas como “te deixo em casa trancado sozinho, peste”, e estávamos todos à bordo do Não Temas, havíamos acabado de passar por um for…
sua dose diária de conversa fiada