Sob o olhar espantado de uma velhinha, eu falei sozinho na rua. Não estou maluco, embora reconheça que tal afirmação não prove saúde ou lucidez de ninguém. Não é a primeira vez que acontece. Há meses percebo que as pessoas me olham na rua com um interesse quase científico. Mas isso vai mudar. Não gosto quando me chamam atenção por isso. No início não acreditava e dizia que louco era quem me acusava. Mas tive de reconhecer. Além de vários testemunhos, chegaram até a filmar um de meus solitários discursos. Mas continuo não gostando. Por que não se metem na sua vida? Vida deles, quero dizer, não se ofenda leitor, isso não é com você que nunca me viu ou acusou de falar sozinho. Claro que a minha fala não é para ser ouvida, se fosse eu falaria com alguém. Geralmente é na rua que falo mais porque em casa fazem muitas perguntas. As pessoas admitem tudo, menos que alguém fale sozinho. Ora, se eu quero, ou preciso, conversar comigo, com quem devo falar? Ou não devo conversar comigo? E há
sua dose diária de conversa fiada