POBRES E POBREZAS >> Albir José Inácio da Silva
Mesmo no tempo que a pobreza doía, nunca ela conseguiu murchar o menino. Talvez arte dos velhos, que absorviam asperezas e amargores de sempre, ele cresceu quase feliz, apesar de se saber pobre, quase miserável.
E pobreza tem lado pitoresco, lado de rir de si mesmo, sabendo-se não culpado, nem inferior. Quem ri do que é, enfrenta com mais facilidade o riso dos outros. Talvez porque, já não havendo no riso novidade, ele incomode menos.
E mais o cultivo da dignidade que aprendeu cedo, estimulado. Quem é bem tratado, com muito ou com pouco, sabe que pertence, tem de que se orgulhar.
Não sabia o que era mais-valia, mas sentia que, se tinham tão pouco, e trabalhavam, então não tinham tirado de ninguém, pelo contrário, tinham crédito dessa tal de moral.
Pensamento esse que embalava família e mais agregados. Quem precisasse mais, tivesse menos, e conseguisse comungar tais idéias, de sobrevivência e solidariedade, era bem vindo sem responder sobre raça, cor, sexo ou idade.
Não que houvesse uma ética da ética, é que tinha ética de sobrevivência, e quem precisava viver se adaptava. Isso não aumentava a pobreza nem diminuía. Era milagre. A comida, pouca, chegava mal para todos, mas chegava.
A religião ajudava dizendo que pra rico salvação é mais difícil. Que é mais importante que salvação? Se pobreza facilita o paraíso, então, desconfia, pobreza é virtude. Ora, bolas!
Cresceu o menino, e foi pra escolas e cidades. E outras pobrezas. Já não lhe dói a miséria e a falta. Já trabalha e veste, e mora, e come. Se espanta agora o menino com a fartura que não alivia, feita de insatisfação, de fome que não é de comida – é fome de ostentação.
E pobreza tem lado pitoresco, lado de rir de si mesmo, sabendo-se não culpado, nem inferior. Quem ri do que é, enfrenta com mais facilidade o riso dos outros. Talvez porque, já não havendo no riso novidade, ele incomode menos.
E mais o cultivo da dignidade que aprendeu cedo, estimulado. Quem é bem tratado, com muito ou com pouco, sabe que pertence, tem de que se orgulhar.
Não sabia o que era mais-valia, mas sentia que, se tinham tão pouco, e trabalhavam, então não tinham tirado de ninguém, pelo contrário, tinham crédito dessa tal de moral.
Pensamento esse que embalava família e mais agregados. Quem precisasse mais, tivesse menos, e conseguisse comungar tais idéias, de sobrevivência e solidariedade, era bem vindo sem responder sobre raça, cor, sexo ou idade.
Não que houvesse uma ética da ética, é que tinha ética de sobrevivência, e quem precisava viver se adaptava. Isso não aumentava a pobreza nem diminuía. Era milagre. A comida, pouca, chegava mal para todos, mas chegava.
A religião ajudava dizendo que pra rico salvação é mais difícil. Que é mais importante que salvação? Se pobreza facilita o paraíso, então, desconfia, pobreza é virtude. Ora, bolas!
Cresceu o menino, e foi pra escolas e cidades. E outras pobrezas. Já não lhe dói a miséria e a falta. Já trabalha e veste, e mora, e come. Se espanta agora o menino com a fartura que não alivia, feita de insatisfação, de fome que não é de comida – é fome de ostentação.
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