NINA >> Leonardo Marona
Hoje não farei. Não direi por que vim até aqui. Não pedirei a seres irreconhecíveis que me dêem passagem ou justifiquem meu desprendimento. Hoje estou por um fio, e estou feliz. Hoje não quero mais a afirmação de que posso rir. Hoje falarei a sério. Não falarei num futuro composto. Não direi dessa vez: “Hoje vou falar a sério”. Mais importante seria dançar algum jazz verdadeiro. Falarei, de fato, pouco de mim. Certamente – não se engane, falo a mim mesmo – pensarei em Hemingway, Dylan Thomas, em como conseguiram, mesmo sem conseguir. Pensarei em Charles Bukowski, em como, sentado diante da máquina, criou espancamentos em frente às janelas do inverno. Pensarei, portanto, em meu pai. O Demônio da Harmônica cessou toda a música, os pulinhos e passes diante do inevitável tombo, ele está morto, com um baralho cigano dentro do paletó. Pensarei no quanto amo meu pai, no quanto dói não saber dizer simplesmente isso, saber que as coisas não são simplesmente isso. Mas mesmo assim quero quantific