ESTÔMAGO >> Carla Dias

Tem um sonho escondido no estômago. Só de visitá-lo em pensamento, o tal dói de fazê-lo expressar careta. Desde muito moleque é assim. Basta o sonho sair do exílio, e visitar seus sentidos, que suas emoções ficam desarranjadas. E cospem na sua cara o que ele se esmera em esconder de si e de qualquer um que se atreva a observá-lo mais de perto. Passou a vida em consultórios a tratar enfermidades. Nunca identificaram a moléstia que o acomete, ainda que seu estômago viva a atacá-lo, de deixá-lo acamado durante dias, privado dos prazeres de se deliciar com certas comidas, com as delícias das bebidas capazes de embriagar até levar a nocaute até mesmo os irritantes demônios que constroem seus impérios nas barras das saia da miséria. Quando escuta alguém a tecer floreados ensejos aos sonhos, revira os olhos, ainda que em seu interior ecoe um descarado desejo de olhar para ele, o sonho encarcerado, boiando no rio ácido do seu estômago, gritando sua necessidade — e direito — de se realizar. Su