LAUDICÉIA >> Albir José da Silva
Laudicéia sentia o bafo quente que entrava pela janela. A blusa azul-claro do uniforme estava azul-escuro e colada no corpo. Tinha sede que a água morna da garrafa pet não saciava. Quarenta minutos com vontade urinar e o ônibus sacolejando no engarrafamento. Finalmente entra na Avenida Atlântica e um vento fresco chega do mar. Um mar azul e branco, comprido que não acaba mais, como se não houvesse ônibus engarrafado, quente, que não chega nunca, e passageiro desaforado. Se pudesse aproveitava esse sinal, saía sem se despedir do motorista, e entrava no mar. Molhava de água fria e salgada a roupa já úmida de suor e esvaziava a bexiga nesse marzão, com um gemido de alívio. Se pudesse, mas não pode. Não pode porque pela manhã deixou a filha com febre que durou a noite toda. Sua mãe também tossia já há uma semana. Fica até pensando se a febre não tem alguma coisa a ver com a tosse. Lá ficou apenas um litro de leite pela metade e um pouco de arroz. O pedido de vale foi negado de novo. “Só