GRATILUZ, TRUMP! >> ALLYNE FIORENTINO
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Dizem os jovens místicos, leitores de livros
de autoajuda e misticismo barato, “guardiões” do segredo que se esconde deles
mesmos, que tudo aquilo que você visualiza, você é capaz de materializar na sua
vida. Basta visualizar!
E não é raro encontrar muitos colocam
que colocam quadros na parede, com uma composição de recortes de revista de
verdadeiras mansões, carros importados na porta da casa, piscina à mostra, um
recorte de uma família dos antigos comerciais de margarina, sorrindo feliz e despreocupada.
Sim, eu sei o que você está pensando se for meramente perspicaz: Mas isso não é
imaginar! Exato. Eu sei, mas a explicação deles para isso é que há pessoas que
são incapazes de criar uma imagem mental nítida de alguma possibilidade.
Tá aí uma coisa em que eles acertaram no
alvo, mas sem imaginar a grandeza dessa conclusão a que eles chegaram. O
processo parou no básico, mas se eles avançam um pouquinho se questionariam o
porquê de as pessoas não conseguirem ter essa habilidade, que, segundo eles,
abriria tantas portas para uma realidade melhor. Eis uma pergunta que deveria
ser feita a esses jovens místicos, cheio de gratiluz, e a todos que se propõe a
te dar soluções: “Por quê?”. Por que você não consegue imaginar? Por que esse
processo dentro da sua cabeça é tão dificultoso pra ser processado?
O bom é que a vida é bastante irônica.
Uma ironia quase newtoniana, que às vezes até desacreditamos, mas funciona. Se
na escola, educadores sabem há bastante tempo que o grande problema dos alunos
é não ter a capacidade de abstração desenvolvida e que isso impede que eles
avancem em seus estudos – fato que quase ninguém fala porque falar sobre isso
implica perguntar por que eles não conseguem abstrair e isso nos leva a
questionar o nosso sistema mundial. “Ah mas tudo é culpa do Capitalismo, isso é
conversa de Comunista!”. Bom, se na escola nosso exemplo de genialidade
continua sendo os Gregos é porque alguma coisa neles admiramos que não
conseguimos reproduzir hoje em dia. E eles não viviam um capitalismo. É só pensar.
É só abstrair um pouco.
Eis que eles crescem e encontram a
mesma dificuldade, só que agora de forma “mística”. E pra sanar essa dificuldade,
leem muitos livros duvidosos que se propõe a “curar” essa falha mental, ou como
eles chamam “bloqueios”. Número de livros que quiçá não leram na escola, por
preguiça ou por má vontade, sem saber que a leitura guiada era o que traria a
eles um pouco da capacidade de abstrair, ou seja, um grande ciclo vicioso meio
engraçado meio triste.
E onde essa conversa vai chegar? Ela
vai chegar no Trump e no seu tarifaço. Como? Acompanhe-me: TODOS os brasileiros,
sem nenhuma exceção, estudaram na escola, nas aulas de História, Geografia, Sociologia
enfim... a trajetória de como os EUA chegaram ao poder mundial: por meio de
guerras, genocídios, colonização, violência, escravização, exploração de outros
países, criação midiática de simbolismos que colonizam a mente e o imaginário
das pessoas. Todos sabem disso, mas entram num grande processo de negação. A
realidade é dura demais pra ser aceita. É duro imaginar uma vida fora do
sistema. É inimaginável, é imaterializável, é invisualizável. É impossível.
Só que nos últimos dias em que o
Brasil resolveu “peitar” os EUA, percebemos que a China está imaginando isso há
muito tempo, trabalhando quietinha e silenciosamente sobre o impossível pra torná-lo
possível. Não digo que os meios para se chegar a esse fim são dos melhores, mas
essa conversa é sobre abstração, e, não, sobre política. É sobre imaginar. Ter
a ousadia de imaginar.
Por que se você não tem a ousadia de
imaginar coisas que vão além, você vai acabar montando um quadro de recortes em
que seu maior desejo, o desejo do seu coração enquanto você está vivendo nesse
inferno terráqueo é só uma casa, um carro, um i-phone, uma piscina e uma
família de comercial de margarina... Como dizem os jovens místicos, muito
certeiramente, eu só posso mudar a minha realidade se eu primeiro aceitá-la
como real. Mas eles não dizem: depois de aceitar, é preciso imaginar.
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