JOVEM, O BRAGA, E O GEIA >> Sergio Geia

 


Ele combina rolezinhos tarde da noite. Não escapa, no entanto, das festas de família, dos encontros na casa de amigos, ou num bar. Se o anfitrião marca às sete e meia, reclama: 
 
— Sete e meia? Tá cedo, não? 
 
Não gosta de chegar cedo, mas adora terminar a noitada de manhã, sol raiando, entupindo-se de sanduíches com bacon e cervejas. 
 
Ah, jovem! Como era bom comer sanduíche de madrugada e depois dormir bem; jovem tem estômago? 
 
Lembrei-me de Cinelândia, crônica do velho Braga; fui procurar. Ele se viu extraviado no centro do Rio. Era um sábado de tarde, lembranças ecoaram de sua mocidade, estimuladas por waffle com mel: 
 
Mais tarde, já na faculdade e morando no Catete, me lembro que sábado de tarde às vezes a gente metia uma roupa branca bem limpa, bem passada (depois de vários telefonemas à tinturaria) e vínhamos, dois ou três amigos, lavados, barbeados, penteados, assim pela cinco da tarde, fazer o footing na Cinelândia. 
 
Não estranhe as expressões e os costumes. Footing, por exemplo. No contexto quer dizer passeio com o objetivo de se arranjar namorada ou namorado. Ouvi muito essa expressão lá em casa saindo da boca de minha mãe. Roupa branca bem limpa, bem passada, barba feita, cabelos penteados etc. Releve, a crônica é de 1954, e os tempos mudaram muito. 
 
O que me chama a atenção mesmo nesse trecho da crônica é o horário que o menino Braga e seus amigos escolhiam para a prática do footing: cinco da tarde. 
 
Para o Geia, nem o moço Braga, nem o jovem de hoje: sete e meia da noite é um horário perfeito. Mesmo porque, quando o ponteiro do relógio se aproximar da meia-noite, se o Geia ainda estiver na rua, certamente estará com sono e desejoso de sua cama quente. 
 
 
 Ilustração: Pixabay

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