TER E NÃO TER >> JANDER MINESSO
Ele era um velho que apostava sozinho no site ElisaBet ponto com. Havia oitenta e quatro dias que não ganhava uma aposta. O jogo era simples: conforme o marlim mergulhava rumo ao fundo do oceano, o montante aumentava. Mas se o animal arremetesse, você perdia tudo. O segredo era clicar no botão Sair antes que o espadarte apontasse para cima.
No começo, a sorte estava ao lado do homem, que se chamava Roberto Jordão. Chegou a garantir dois meses de aluguel jogando durante um final de semana. Mas nos últimos tempos, o bicho sempre o fazia de bobo. Rodava em círculos, embicava para baixo, reduzia a marcha. E aí, do nada, disparava feito um raio rumo à superfície. Roberto mal tinha tempo de digerir a frustração quando a tela brilhante perguntava: Deseja jogar de novo? Precisou pedir dinheiro para os outros na esperança de virar o jogo, pagar as contas e ainda sobrar algum. De dez em dez reais, já devia dois mil para a nora e dez vezes isso para um cara que tinha um dente de ouro.
Uma vez, mandaram um brutamonte até sua casa para cobrá-lo. O caçula estava de visita e ficou meia hora com um revólver apontado para a cara. Alguns dias depois, o próprio Jordão pensou em apontar um revólver para a cabeça, mas desistiu. Um homem pode ser destruído, mas não derrotado. E de qualquer maneira, não queria deixar dívidas. Mas achou prudente mandar o caçula para longe e depois proibiu as visitas da família.
Restou ir atrás do peixe virtual. Roberto sabia que mais dia, menos dia, pegaria os trejeitos do marlim. Era só questão da maré virar. Uma balançada de cauda, uma tremida quase imperceptível na nadadeira, um brilho diferente naqueles olhos vidrados e zap! Apertaria o botão no instante exato antes da arremetida. Deseja jogar de novo? De novo e de novo. O dinheiro voltaria a fluir. Ele pagaria o cara com dente de ouro e a nora. Traria o caçula do interior de Minas e faria um belo churrasco para todos, com cerveja da boa. E depois disso, tiraria uma bela pestana. Achava bonito pensar assim.
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