A INCOMPLETUDE QUE NOS É NATA >> Ana Raja
O evento foi bem organizado e nutrido de boas conversas. Esta cidade respira arte. O corpo de Brasília é arte!
O tema da minha mesa era instigante e deu o que falar, sobre o positivo e o negativo. De qualquer forma, conseguiu despertar a atenção de todos os presentes.
O mal-estar na literatura, um sintoma inevitável.
A incompletude nata nos impulsiona, como indivíduos da sociedade, a buscarmos novos caminhos, aprendizados, perspectivas, até lidarmos com verdades duvidosas. Procuramos formas de costurar e preencher os vazios ocasionados por essa falta que nos acompanha desde a nossa chega ao mundo.
Geralmente, a sensação de falta vem de um lugar profundo; da dor, do pertencimento, das injustiças, do silêncio teimando esconder nosso grito, da luz, das trevas e de outras tantas observações de ocorrências — internas e externas — que movem a escrita do autor. O mal-estar está estampado nas palavras, nos pensamentos e nas falas dos personagens das histórias criadas, e nos gestos, nos sorrisos e na falta, com a diversidade de sua voz, a variedade de motivações para sua existência. Essa me parece ser a mais importante engrenagem na construção de uma história, na qual o leitor percebe o vazio deixado pela falta, e termina a leitura do livro virando a última página com o seu próprio final ecoando em seu pensamento.
O mal-estar na literatura nos coloca não apenas em um lugar de denúncia. A literatura causa uma simbiose no leitor. Ele se enxerga naquela história, se rebela diante dos acontecimentos narrados e, muitas vezes, descobre não ser “somente ele” ... “somente nós”. Compreendem que o escrito nas páginas de um livro pode acontecer em outros lugares; dentro da minha casa, da sua, do outro lado da rua, no meu trabalho, nas relações de todos e em um mundo distante de nós, mas com mal-estares semelhantes.
O incômodo, para nós, escritores, é a chama a alimentar reflexões necessárias.
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As dores delas, primeiro livro de Ana Raja, está a venda no www.editoraurutau.com.
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