felicidade >> whisner fraga

 


alguns sebos se tornaram livrarias:

são organizados, limpos, catalogados, perfumados até,

o atendente sabe tudo sobre cada item,

há sempre alguém por perto, para tirar alguma dúvida,

esses eu evito,

há outros mais palatáveis: bagunçados, caóticos, empoeirados, cheirando a mofo,

do lado de fora, em cima de um caixote, uma cesta e, dentro, velharias em promoção,

uma espiada e descubro pilhas e pilhas e pilhas de tudo: revistas, livros, fitas cassetes, vinis, CDs,

entro, ninguém me aborda, 

ah, a liberdade...,

tarde livre?: confere,

disposto a garimpar?: confere,

pronto para barganhar?: confere,

o frio na barriga anuncia que posso sair dali com alguma preciosidade,

para tirar a última dúvida: onde estão as revistas de música?,

o homem, incomodado por ter de desviar o olhar da tela, me indica, com descaso: naquele canto,

minutos depois, pinço um disco antigo, pergunto o valor (nada ali é etiquetado), ele rosna uma cifra bem abaixo do mercado,

pronto, o paraíso existe,

duvido que não saia feliz dali.


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foto: pixabay.

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