BARRIGUDA: >> Ana Raja
somos muitas
nascidas e criadas
em solo fatídico
nossos corpos moldados: parideiras
preenchidas pelo líquido
que é vida
flores rosas
às vezes brancas
gestamos
arredondadas
protegidas dos espinhos
venha a nós a vossa doçura
aguardando o fruto
lamentamos
ao descobrir a distância
impedindo abraço – galho a galho
pois de nossas entranhas
apenas painas
parimos painas
eclodidas das pinhas
vento as arrancando morosamente
a dor escorrida
lágrimas em flor apontam caminho
enfeitam os cabelos da terra
aceito meu destino
enquanto as minhas companheiras
- seja por escolha ou por ingenuidade -
vivem da tentativa de subverter o ciclo da terra
até morrerem
secas
sem mais serventia
feito eu.
------
As dores delas, primeiro livro de Ana Raja, está a venda no www.editoraurutau.com.
Comentários