O PAVÃO E A HIENA >> André Ferrer
Se a fome de visibilidade não fosse apenas um pavão, seria uma grande arma contra o outro tipo de fome - essa hiena risonha e escarnecedora.
O desejo por notoriedade é tão antigo quanto os apelos de um estômago vazio, mas a sua explosão, mais recente, deu-se depois que os meios de comunicação evoluíram, sendo uma das marcas do novo século. Já a fome é uma necessidade biológica que impulsiona a busca por recursos desde que o primeiro sopro de vida aconteceu. Experiência universal, provoca sofrimento físico e, por isso mesmo, tem servido como arma de dominação.
A fome pode ser representada por uma hiena e a sua luta crua e instintiva pela sobrevivência. Não busca aplausos nem reconhecimento. É movida por necessidades primárias, pelo instinto de saciar o corpo e sustentar a existência. Já o pavão, que exibe suas penas para chamar a atenção, ignora o estrago e a ironia praticados pela hiena.
Assim como o pavão, milhares de indivíduos buscam impressionar e conquistar admiração. Eles vivem da percepção externa e da validação.
Uma necessidade ampliada nas redes sociais onde a exposição pessoal se tornou um meio e a interação uma moeda valiosa.IMAGEM: Google Gemini
Ambas as formas de fome revelam como os seres humanos dependem de fatores externos para o equilíbrio e a satisfação de suas necessidades. No caso da fome física, a carência de recursos reflete desigualdades sociais e econômicas, enquanto a fome de visibilidade se relaciona com a crescente degradação do espírito humano.
Em sociedades desequilibradas, onde existem grandes diferenças socioeconômicas, a imagem e o status altamente valorizados só fazem aprofundar as diferenças. A hiena ri da própria miséria. O pavão se ilude com a própria aparência.
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