PRECISA DISSO? >> Ana Raja


Às vezes, me arrisco em alguns ambientes virtuais. Com certa segurança, me sinto à vontade para entrar em grupos de WhatsApp sobre temas de meu interesse, sendo o principal deles a literatura, terreno fértil para discussões relevantes sobre o tema. 

A produção literária contemporânea, os prêmios e as listas são positivos. Mesmo não refletindo o ponto de vista de todos, movimentam uma engrenagem necessária para não emperrar a cultura e o conhecimento aqui no Brasil. Há muita gente boa traçando um caminho honesto e decente na literatura. Pessoas que são escritoras, editoras, críticas, estudiosas que se debruçam em teorias e lançam luz sobre uma nova linguagem, uma estrutura revigorada, ousada e necessária.

Acredito que tais grupos têm o seu valor, e que alguns são importantes, mas outros, desnecessários, decepcionantes até.

Durante uma conversa entre integrantes de um grupo que discutia literatura, alguns opinavam sobre itens de uma lista de livros selecionados como tema para os encontros. Não se tratava de crítica literária profissional, apenas de impressões pessoais, e devo dizer, algumas bem deselegantes. Tenho cuidado ao escolher adjetivos para classificar o que me desagrada. “Deselegante”, neste caso, é fofo demais.

Calei-me. Observei.

A obra de uma profissional comprometida com a história contada, pesquisadora experiente e dedicada, foi trazida para conversa desse grupo. O que poderia ter sido uma ótima discussão literária, se tornou uma declaração de ofensas. O ser humano perdeu o senso e a educação em alguma esquina. Não é possível! Escritoras e escritores, pessoas talentosas, premiadas, publicadas em vários países e competentes em seu ofício precisam ser submetidas a esse escrutínio? Não gosta da obra? Tudo bem. Eu não gosto de muito do que é aclamado por aí, mas dou o devido valor considerando o conteúdo, porque são obras muito bem escritas. E não saio jogando palavras ao vento sobre um trabalho e a pessoa que o concebeu, apenas para entrar na conversa. Quer elaborar um trabalho crítico? Vai estudar! Neste caso, leia o livro. E quando resolver colocar no papel a sua opinião embasada em estudos, fale apenas da obra.

Respeitar as pessoas e suas obras, ser responsável ao emitir suas opiniões, pode evitar de se desacreditar a competência de outra pessoa, apenas porque a obra dela não caiu no seu gosto.

Sabe do que me dei conta durante essa conversa? Gente chata, recalcada e falsa. Sim, pessoas falsas. Se em algum evento elas encontrarem a escritora rechaçada, levarão seus livros para ela autografar, tecerão elogios, tirarão fotos para postar no mesmo grupo do WhatsApp no qual desabonaram sua competência. 

Precisa disso?

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As dores delas, primeiro livro de Ana Raja, está a venda no www.editoraurutau.com.

anaraja.com.br

Comentários

Zoraya Cesar disse…
Ana, precisar, não precisa. Mas, veja, sem esse poder de avacalhar c o outro, essa gente que tem tal repugnante hábito, vai viver de qê? O vazio existencial dessas pessoas lhes seria insuportável
Jander Minesso disse…
Ouvi um podcast dia desses onde um cientista explicava por A mais B que a chance de redes e aplicativos como o WhatsApp fomentarem algo construtivo no longo prazo é remota. Triste, né?

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