ANTES DA GUERRA >> André Ferrer
O conflito entre Israel e Irã tem raízes profundas que se entrelaçam com mudanças políticas e geopolíticas significativas no Oriente Médio ao longo das últimas décadas. Na última semana, os ataques mútuos entre Irã e Israel marcaram um dos picos mais perigosos desse confronto indireto. Enquanto o passado revela uma guerra fria regional, marcada por proxies e operações secretas, os eventos recentes demonstram uma escalada preocupante para confrontos mais abertos e diretos entre os dois países.
Enquanto isso, muito longe dos minaretes e das sinagogas, dois cidadãos brasileiros discutiam num boteco recendendo a fumaça de cigarro e a cerveja choca. Um deles era conservador. O outro era progressista. Apenas um, entretanto, sabia das raízes do conflito enquanto o outro era incapaz de ter o próprio criticismo e se guiava de acordo com o que o seu ídolo prescrevia.
— Parem com isso ou vou chamar a polícia.
O dono do estabelecimento nunca pendia para um dos lados quando estava atrás do seu balcão. Do contrário, perderia fregueses.
— Calma, seu Ribas. É só uma conversa entre um desperto e um iludido.
— Mas que conversa fiada — disse o conservador.
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IMAGEM: Gemini |
— Aqueles árabes precisam de uma boa lição — prosseguiu o conservador.
Árabes?!, pensou o progressista.
Antes da Revolução Islâmica de 1979, o Irã estava longe de ser o que é hoje. O país tinha um aspecto ocidental e mantinha relações diplomáticas com Israel.
A partir da década de 1980, surgiram o Hezbollah no Líbano e, mais recentemente, grupos como o Hamas, proxis financiados pelo Irã a fim de concretizar a Jihad Islâmica na Faixa de Gaza, libertar o povo palestino confinado há tempos e formar um país de verdade. Um cenário em que muitos países, encabeçados por Israel, consideram protagonizado por organizações terroristas afim de refutar a ideia de que os palestinos vivem oprimidos e aguardam, há anos, por um território para viver e constituir um Estado.
A fronte do progressista esquentou só de pensar nas asneiras que o outro não fora capaz de dizer. Enquanto o israelense dos trópicos rosnava, ele respirou fundo e controlou-se. Poderia bombardear aquele ignorante, mas restringiu-se a pensar.
Após a revolução, o Irã passou a adotar uma postura fortemente anti-Israel. Sob liderança dos aiatolás, a república islâmica rompeu os laços e posicionou-se como um dos principais opositores do Estado judeu, que oprimia os palestinos há décadas.
Calado, o conservador recorria a uma estratégia cansativa: mostrar nove dedos e fazer uma careta idiota. Nenhum argumento levemente ameaçador, entretanto, surgiu naquela cabeça de vento e, muito menos, animou aquela boca robótica.
— Correto — fez o progressista. — Eu já vi que é uma perda de tempo. Você fugiu da escola. Não sabe que os judeus tomaram as terras dos palestinos ainda antes da década de 1940. Foi conveniente, depois da Segunda Guerra, instalar os sobreviventes do holocausto naquela região... Ninguém, em sã consciência, ficaria contra... Então, os palestinos foram expulsos e ganharam pequenos territórios onde ficaram, na verdade, confinados... Enfim, se ferraram.
— Quem disse? — fez o conservador. — Você é um admirador de ladrão. E a picanha? Ainda tem esperança?
— Ó, seu Ribas, pendura a breja — disse o progressista. — Fui! Do contrário, haverá uma guerra por aqui. Alguém precisa ceder.
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