ÉRAMOS UMA ILHA ILUMINADA 》》ALLYNE FIORENTINO


Éramos uma ilha iluminada. Faísca frágil correndo pelas estradas. Um grande carro de baco, levando vidas desgarradas, fugidias de si mesmas, deixando – talvez traumatizadas – as suas Naxos. De onde elas mesmas chegaram à nado e por conta própria.

Há lugares propícios para se sentir pequeno. Geralmente onde o céu desmorona em suas costas - pequenas. E ainda assim ele, delicado, amortece a sua imensidão para que sentindo-a firme, ainda continuemos de pé. Mas basta a ponta do dedo para te lembrar: pequenino.

“Eu sou relevante...” e o sorriso irônico te corrige: “Eu quero...” “Eu quero ser relevante”.

Em toda viagem é assim. Sempre penso que esse movimento todo pode dar em nada. Como um Teseu desesperançoso, penso mesmo que posso não chegar lá. E ficarei eternamente nessa escuridão do entremeio, sem sinal de celular e em silêncio. Esses lugares que você se lembra da solidão e que nada que importa virá com uma notificação. Coisas relevantes não são anunciadas, elas surgem do espanto, sem trompetes de boas-vindas e arrasam com tudo. Elas mesmas não tem seu fio de Ariadne, elas o são.

Quando eu era criança, por pouco tempo tive medo do escuro. Imaginava todo tipo de monstro que poderia surgir dele, maquinava na minha cabeça de criança que se eles quisessem mesmo me pegar, nada os impediria. Por isso que a presença dos adultos não me acalmava. Racional dentro da minha fantasia, entendia que eles pouco podiam contra o sobrenatural. Eles eram tão impotentes quanto eu! 

E foi assim que pensei que se era pra estar cativa de seres das trevas, já estaria. E desde então, torcia para que a energia elétrica acabasse durante a noite. Assim, as luzes dos postes se apagavam e a gente conseguia ver as estrelas.

Agora era exercício, se estiver na escuridão profunda, senta pra ver as estrelas. 

Éramos uma ilha iluminada, e eu, sentada, atravessava as estrelas.

---------

Imagem: Freepik


Comentários

Postagens mais visitadas