PEQUENAS COISAS DIFÍCEIS DE ABSORVER >>> NÁDIA COLDEBELLA
Nessa coisa que chamamos de vida, me dou conta de que nem tudo é simples de absorver.
Para quem não sabe, o processo de digestão não é algo relativamente simples. Na verdade, é bem complexo, e todo o corpo se concentra nele. Nosso cérebro é quem faz de conta que nada acontece e segue a vida realmente como se nada estivesse acontecendo.
Facilita muito para o pobre organismo quando ingerimos algo que colabore com tudo isso. Por exemplo: a carne é algo difícil de ser digerido, então o corpo padece mais. Legumes cozidos no vapor são digeridos mais facilmente — porém, logo o estômago dá o alarme, e o cérebro, com certeza, não ignorará.
A vida, porém, não é assim. Cozinhar a vida no vapor não a tornará mais digerível. (Favor não confundir "digerível" com "dirigível". A vida também não pode ser dirigida.)
Tendo isso em mente, juro que tenho tentado ver as coisas sob outras perspectivas, mas, de onde me posiciono, outras perspectivas são difíceis de serem vistas.
Para que você entenda um pouco sobre perspectiva, deixe-me propor um exercício de imaginação: faça de conta que você está no meio de uma rua. À sua frente, há muitos e muitos prédios, casas e pessoas. Do ponto de vista do local em que você se encontra, as coisas são maiores perto de você e diminuem na medida em que se distanciam. Mudar de posição nessa mesma rua pode levar você a ver as mesmas coisas — provavelmente, de outra maneira.
Mas você ainda é o ponto, naquele espaço, de onde parte a sua visão.
Você ainda é um ponto no espaço.
Um ponto no espaço. Um ponto no mundo.
Apenas um ponto.
Trata-se de matemática pura: uma reta precisa de, no mínimo, dois pontos para existir. Um plano precisa de infinitos pontos.
Seja a Terra plana ou redonda, ela ainda precisa de infinitos pontos.
Esteja você posicionado à esquerda ou à direita no plano, você é apenas um dos pontos.
Um ponto.
Você vê apenas da sua perspectiva. Mesmo que mude de lugar.
Engula isso. Digira isso. Absorva isso.
Você é apenas um ponto.
E só.
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