O OUTRO ESCRITOR >> Eduardo Loureiro Jr.
É outro que escreve. Quanto melhor é aquilo que penso que escrevo, mais eu sei que é outro aquele que escreve.
Eu, que até agora pensava que escrevia, sou apenas a caneta, o computador, o instrumento com o qual esse outro busca escrever.
Ele tem suas ideias, ele tem sua inspiração, e nem sempre consegue fazer, por meu intermédio, o texto que imaginou. E isso não se deve a uma limitação dele, mas minha. Pois não sou um instrumento mecânico, mas um instrumento vivo. Um instrumento com vontade, principalmente a vontade de não ser um mero instrumento mas de ser o próprio escritor. Uma caneta, ou um computador, que quer escrever sozinho. Uma inteligência artificial que quer se mostrar real. Uma tentativa de inversão: o instrumento querendo usar o escritor para produzir um texto. Assim saem os piores escritos, como talvez seja este. Na melhor das hipóteses, uma confissão sincera, uma admissão do crime.
Enquanto escrevo isto, o outro não escreve o que deveria escrever. Você, leitor, fica privado do belo texto que o outro escreveria se eu não estivesse aqui atrapalhando o processo com ares supostamente nobres de metalinguagem. A consciência disso, entretanto, não me faz abdicar do domínio, da primazia sobre as pontas dos dedos. Mesmo me sabendo instrumento, continuo teclando em causa própria, sem abrir espaço para o outro.
Não quero o texto belo do outro porque você, leitor, há de dizer “que belo texto, Eduardo, parabéns”, e eu saberei que os parabéns não são para mim, são para o outro. Quem elogiaria o instrumento com o qual foi feita uma obra-prima? Quem louva os pincéis de Matisse, a pena de Shakespeare, o cinzel de Rodin, a máquina de escrever de Fernando Pessoa? O destino de um instrumento é se gastar e se tornar obsoleto, sendo substituído por outro mais novo e mais eficiente.
Não, não sou eu que escrevo, mas estou apegado a esta ilusão de escrever. Não, não sou eu que escrevo, mas persisto na loucura de assinar o texto e publicá-lo. Não, não sou eu que escrevo, apenas faço de conta que sou para que o leitor pense que sou.
Mas agora está tudo revelado: eu não sou o escritor. O leitor, de agora em diante, sabe a verdade. E a única maneira que tem de continuar me chamando de escritor é, também, se iludindo e fazendo de conta.
Eu, que até agora pensava que escrevia, sou apenas a caneta, o computador, o instrumento com o qual esse outro busca escrever.
Ele tem suas ideias, ele tem sua inspiração, e nem sempre consegue fazer, por meu intermédio, o texto que imaginou. E isso não se deve a uma limitação dele, mas minha. Pois não sou um instrumento mecânico, mas um instrumento vivo. Um instrumento com vontade, principalmente a vontade de não ser um mero instrumento mas de ser o próprio escritor. Uma caneta, ou um computador, que quer escrever sozinho. Uma inteligência artificial que quer se mostrar real. Uma tentativa de inversão: o instrumento querendo usar o escritor para produzir um texto. Assim saem os piores escritos, como talvez seja este. Na melhor das hipóteses, uma confissão sincera, uma admissão do crime.
Enquanto escrevo isto, o outro não escreve o que deveria escrever. Você, leitor, fica privado do belo texto que o outro escreveria se eu não estivesse aqui atrapalhando o processo com ares supostamente nobres de metalinguagem. A consciência disso, entretanto, não me faz abdicar do domínio, da primazia sobre as pontas dos dedos. Mesmo me sabendo instrumento, continuo teclando em causa própria, sem abrir espaço para o outro.
Não quero o texto belo do outro porque você, leitor, há de dizer “que belo texto, Eduardo, parabéns”, e eu saberei que os parabéns não são para mim, são para o outro. Quem elogiaria o instrumento com o qual foi feita uma obra-prima? Quem louva os pincéis de Matisse, a pena de Shakespeare, o cinzel de Rodin, a máquina de escrever de Fernando Pessoa? O destino de um instrumento é se gastar e se tornar obsoleto, sendo substituído por outro mais novo e mais eficiente.
Não, não sou eu que escrevo, mas estou apegado a esta ilusão de escrever. Não, não sou eu que escrevo, mas persisto na loucura de assinar o texto e publicá-lo. Não, não sou eu que escrevo, apenas faço de conta que sou para que o leitor pense que sou.
Mas agora está tudo revelado: eu não sou o escritor. O leitor, de agora em diante, sabe a verdade. E a única maneira que tem de continuar me chamando de escritor é, também, se iludindo e fazendo de conta.
Comentários