A FELICIDADE.EXE >> Carla Dias >>

O que é a felicidade?
Seria um clique e a execução descarada da nossa necessidade de sorrisos, abraços, cafezinhos, vinhos e comida boa, cafuné, compreensão?
Quando recebi a notícia de que o novo disco do compositor, violonista e cantor Élio Camalle teria o título de A FELICIDADE.EXE, antes mesmo de me esbaldar nas definições tecnológicas, peguei-me namorando as metáforas, saboreando a ideia de haver esse jeito virtual de clicar em emoções executáveis. Mas claro que ele já tinha pensado nisso antes:
Ela me abriu a janela e disse: clique aqui e seja feliz! Foi o que eu fiz, cliquei.
(Programa)
Como seria experimentar um programa que nos ensinasse a ver a vida através de frames de felicidade?
Eu suspeito das pessoas felizes em tempo integral. Admiro profundamente as que sabem saborear a felicidade sempre que ela aparece. Por isso mesmo o A FELICIDADE.EXE me soou íntimo. Quem ouve o disco passa pelos altibaixos oriundos dos tradicionais sentimentos cravados na alma do ser humano, passando pelo abandono e pelo encontro, pela percepção clara de que a poesia gargalha, enquanto se debulha em lágrimas.
Que raio de amor é esse que me pegou sem prévio aviso, sem dinheiro e sem filtro solar, sem os meus óculos escuros?
(Festa da Solidão)
Sábado passado, fui à Casa das Rosas, esse espaço cultural super bacana que fica na Avenida Paulista, aqui em São Paulo. Fui assistir ao show de lançamento do CD A FELICIDADE.EXE e, claro, dar um abraço no amigo que não via há um tempão, o pai do Théo.
Tu, revelando o filho de um tempo atrás, eu, construindo o pai que um dia serás.
(De pai pra filho)
Élio Camalle é um dos meus compositores preferidos, mas também aprecio, e muito, o instrumentista. Ele faz o violão cantar o número de identidade, e falo de número de identidade musical! Também gosto demais da sua voz a cantar sua poesia que, mesmo dolente, remete à esperança de compreensão e regalo.
Deus da minha necessidade, da minha imaginação. Deus da minha cidade, do pavor de morrer cedo, do medo da solidão, vim aqui lhe confessar: dia desses fui feliz, vi que era lindo o mar.
(Dúvida)
Mesmo quando o artista enfia o pé na irreverência, há uma sutileza abastada de tramóias para nos pegar no pulo. Ele brinca com a palavra para abordar seriedades, e o faz como o menino que gosta de estilingue e tenta, diariamente, acertar uma estrela, mas só para que ela venha a Terra lhe fazer companhia.
Vou viajar pro beleléu, morar na casa do chapéu. Onde Judas perdeu a sola do pé. Vou sem saber pra onde vou. Vou longe! Vou desaparecer do mapa, tomar um chá de sumiço.
(Longe)
A felicidade é uma dona indecisa. Às vezes, ela medita milênios sobre meandros, só para decidir, bandeando para a urgência, a quem atenta e a quem atende. Sobram, então, a alegoria dos corações partidos, amores intrincados, as volúpias domesticadas.
Se seu amor foi embora, amanhã é outro dia. A dor dá asas, a gente voa sem geografia. Inda que doa, dá à pessoa sabedoria.
(Amplificador)
Entre uma canção e outra, encontrei uma bela declaração de amor para fazer quando o desejo já passou a rasteira na gente:
Benfica comigo, cola o teu umbigo no meu. Benfica comigo, cola o teu umbigo nu no meu umbigo.
(Neguinha Monamour)
E a necessidade de encontrar alguém que não parta ou nos parta ao meio de tanta espera:
Hoje eu quero alguém que combine comigo, que tenha a cara, rara metade de mim.
(Caso)
Élio Camalle teceu um disco que pode até usar e abusar dos termos da tecnologia que assola nossa modernidade, mas o manteve nas beiradas de uma ironia sedutora e atemporal, debruçando-se no bom e velho olhar de quem compreende que a maioria das novidades são reinvenções e que nem sempre estamos preparados para a melhor das versões da realidade.
Cortei os pulsos da tarifa telefônica; apaguei a conta de luz; tirei seu nome do meu RG; e pus a corda no pescoço da segunda-feira.
(Felicidade)
Para quem gosta de enveredar por novos caminhos, o A FELICIDADE.EXE é um bom rumo a se tomar. Conhecer o trabalho de Élio Camalle, partindo desse disco, pode ser uma jornada bem interessante. Há outras canções neste álbum que não citei, assim como faixas interativas. Porém, depois deste, permita-se sentir tentado também a conhecer os discos anteriores. Há muito a ser apreciado na discografia desse compositor.
Seria um clique e a execução descarada da nossa necessidade de sorrisos, abraços, cafezinhos, vinhos e comida boa, cafuné, compreensão?
Quando recebi a notícia de que o novo disco do compositor, violonista e cantor Élio Camalle teria o título de A FELICIDADE.EXE, antes mesmo de me esbaldar nas definições tecnológicas, peguei-me namorando as metáforas, saboreando a ideia de haver esse jeito virtual de clicar em emoções executáveis. Mas claro que ele já tinha pensado nisso antes:
Ela me abriu a janela e disse: clique aqui e seja feliz! Foi o que eu fiz, cliquei.
(Programa)
Como seria experimentar um programa que nos ensinasse a ver a vida através de frames de felicidade?
Eu suspeito das pessoas felizes em tempo integral. Admiro profundamente as que sabem saborear a felicidade sempre que ela aparece. Por isso mesmo o A FELICIDADE.EXE me soou íntimo. Quem ouve o disco passa pelos altibaixos oriundos dos tradicionais sentimentos cravados na alma do ser humano, passando pelo abandono e pelo encontro, pela percepção clara de que a poesia gargalha, enquanto se debulha em lágrimas.
Que raio de amor é esse que me pegou sem prévio aviso, sem dinheiro e sem filtro solar, sem os meus óculos escuros?
(Festa da Solidão)

Tu, revelando o filho de um tempo atrás, eu, construindo o pai que um dia serás.
(De pai pra filho)
Élio Camalle é um dos meus compositores preferidos, mas também aprecio, e muito, o instrumentista. Ele faz o violão cantar o número de identidade, e falo de número de identidade musical! Também gosto demais da sua voz a cantar sua poesia que, mesmo dolente, remete à esperança de compreensão e regalo.
Deus da minha necessidade, da minha imaginação. Deus da minha cidade, do pavor de morrer cedo, do medo da solidão, vim aqui lhe confessar: dia desses fui feliz, vi que era lindo o mar.
(Dúvida)
Mesmo quando o artista enfia o pé na irreverência, há uma sutileza abastada de tramóias para nos pegar no pulo. Ele brinca com a palavra para abordar seriedades, e o faz como o menino que gosta de estilingue e tenta, diariamente, acertar uma estrela, mas só para que ela venha a Terra lhe fazer companhia.
Vou viajar pro beleléu, morar na casa do chapéu. Onde Judas perdeu a sola do pé. Vou sem saber pra onde vou. Vou longe! Vou desaparecer do mapa, tomar um chá de sumiço.
(Longe)
A felicidade é uma dona indecisa. Às vezes, ela medita milênios sobre meandros, só para decidir, bandeando para a urgência, a quem atenta e a quem atende. Sobram, então, a alegoria dos corações partidos, amores intrincados, as volúpias domesticadas.

(Amplificador)
Entre uma canção e outra, encontrei uma bela declaração de amor para fazer quando o desejo já passou a rasteira na gente:
Benfica comigo, cola o teu umbigo no meu. Benfica comigo, cola o teu umbigo nu no meu umbigo.
(Neguinha Monamour)
E a necessidade de encontrar alguém que não parta ou nos parta ao meio de tanta espera:
Hoje eu quero alguém que combine comigo, que tenha a cara, rara metade de mim.
(Caso)

Cortei os pulsos da tarifa telefônica; apaguei a conta de luz; tirei seu nome do meu RG; e pus a corda no pescoço da segunda-feira.
(Felicidade)
Para quem gosta de enveredar por novos caminhos, o A FELICIDADE.EXE é um bom rumo a se tomar. Conhecer o trabalho de Élio Camalle, partindo desse disco, pode ser uma jornada bem interessante. Há outras canções neste álbum que não citei, assim como faixas interativas. Porém, depois deste, permita-se sentir tentado também a conhecer os discos anteriores. Há muito a ser apreciado na discografia desse compositor.
Agora que vocês conhecem um pouquinho de algumas letras do FELICIDADE.EXE, confiram a página de Élio Camalle no Myspace para conhecerem a música:
Imagens: 1) Capa do CD - 2) por Alessandra Fratus - 3) por Gabriela Moraes - 4) por Michele Andrade
http://www.carladias.com/
http://talhe.blogspot.com/
http://www.carladias.com/
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Comentários
"Diz quem te convidou pra festa..."
Carla,
Gostei de ouvir o Élio. Vou escutar as outras músicas. Obrigada por apresentá-lo, ainda não conhecia o seu trabalho.
Beijos pra vc e sucesso pro Élio.
Carmen Silvia... Muito obrigada! Você conhece o trabalho do Élio, e sabe que ele merece que sua música ganhe o mundo.
Juliêta... Sou suspeita, mas nem tanto. Quando gosto de algo, é porque realmente me caiu no gosto. Acho que se você abrir seu coração, encontrará uma boa jornada nas canções do Élio.