TEM O NOME A VER COM A COISA? >> Zoraya Cesar

Plínio Andreija. Nome composto mesmo, chique, que o sobrenome não vem ao caso. O pai do menino acreditava convictamente que os nomes influenciam o destino das pessoas. Era, ele mesmo, um exemplo cabal de sua teoria: batizado como Cláudio, claudicava pela vida afora, por dois motivos singelos: uma enorme incapacidade de tomar decisões e ter sido atropelado por um triciclo, quando criança. Mais exemplos? Sua esposa, Portia, era uma encantadora, inteligente e linda jovem que lembrava muito a personagem de Shakespeare. Após o casamento, porém, passou a assemelhar-se ao mamífero com focinho de tomada do qual originara seu nome.

Temeroso pelo destino de seu filho, Claudio registrou-o como Plínio Andreija, apesar dos insistentes pedidos da sogra para que, ao menos, fosse Plínio André. Nunca! André era um nome comum demais para a vida grandiosa que desejava para o filho. (Como culpá-lo? Qual pai não quer um filho bem-sucedido, criativo, valente?).

Você, certamente, com a fina intuição com que a Natureza o aquinhoou, já deve ter concluído que o Destino passou ambos, pai e filho, para trás.

Já na infância - você sabe como as crianças podem ser cruéis – graças ao desmazelo de sua mãe, as roupas amarfanhadas com que Plínio Andreija ia à escola lhe garantiram a alcunha de Andrajo. O apelido não desgrudou nem mesmo durante a época em que, adolescente, tentou vestir-se melhor. Até que, adulto, desistiu de lutar contra o inevitável e assumiu de vez a alcunha, suas roupas sempre parecendo com os lençóis de uma cama desfeita.

Vamos ser sinceros: não adianta ter boa vontade se lhe falta um pouco de sorte, essa senhora indomável e incompreensível, que, definitivamente, não bafejou a vida de Plínio Andreija com seu hálito refrescante. Todos colavam, mas ele era o único flagrado. Era sorteado para as piores tarefas. Se entrava uma abelha na sala, era ele o picado. Se o grandalhão da rua estava de mau humor, era Plínio quem sofria. E assim vai. Para piorar – sempre se pode piorar, você sabe – qualquer coisa que fazia com a melhor das melhores intenções, era mal, muito mal-interpretada. Tenho certeza que em sua lápide constará: “morri por engano”.

Seus colegas costumavam comprar a boa vontade da professora com chocolates. Plínio Andreija resolveu inovar e dar-lhe um presente que se prolongasse no tempo – fez, na oficina da escola, uma barra de chocolate de cerâmica leve, perfeita, até essência de baunilha colocou (ele tinha jeito para trabalhos manuais, verdade seja dita), mais bonita que uma barra Lindt e, naturalmente, mais dura que os dentes incisivos da professora, que quebraram ali mesmo, em plena aula. Não foi jubilado porque conseguiu provar que o intento não era malicioso, mas a família  foi obrigada a pagar todo o tratamento dentário da desinfeliz e também uma gorda indenização. Era, conclui-se, um trapalhão. 

Errando o endereço eletrônico de sua amada, enviou uma mensagem melosa e romântica para a menina errada (a seu favor, ele confundiu nomes parecidos - malice@, uma; malena@, a outra, ou algo assim). A menina errada, claro, tinha um namorado marrento, claro, que chamou Plínio às falas, claro, e deixou-o mais andrajoso ainda. Pois, lamento dizer, ser Andreija não lhe inspirava valentia alguma e nosso amigo era um moleirão de dar pena. Ou de dar com o pau, como fez o tal namorado da menina errada.

Vamos lá, mais um exemplo de como ser Plínio Andreija e trapalhão ao mesmo tempo:

O cubo de Rubik, que desafiou a pertinácia
e a paciência de muita gente. Inclusive a minha.
A única mulher que lhe dera atenção suficiente para conhecer-lhe as qualidades era trabalhadeira e digna, mas simples e orgulhosa. Demonstrando que não aprendera com a vida, Plínio Andreija construiu um quebra-cabeça cujas peças, uma vez encaixadas, formariam a frase: Quer casar comigo? Mas o jogo mais parecia um cubo de Rubik de tão complicado, e a moça não conseguiu montá-lo, nem seus parentes, amigos, ninguém. Humilhada, terminou a relação dizendo entender por que ninguém ficava com ele, um metido a besta insensível e arrogante. 

O Destino pode até estar escrito
nas estrelas, mas há que se saber ler.
E desconfiar.
Seja por suas próprias faltas, ou por culpa das estrelas, o fato é que Plínio Andreija não cumpriu o destino de glória que lhe prenunciara seu nome auspicioso. Passava os dias a lamentar quão injusto era o mundo, quão invejosos deuses e homens da vida venturosa que deveria ter sido sua por direito.

Agora, você me pergunta: mas, por que essa história? Por nada especial. Não tente, você, também, achar que tudo tem um sentido oculto, uma moral subjacente. Veja o que isso faz na vida de uma pessoa. Talvez essa história queria alertar para não se fiarem nas estrelas, elas são muito enigmáticas; que nomes de bom augúrio não significam grande coisa por si sós. Ou talvez esteja me sentindo malvada hoje. Quem sabe?

Pessoal, muito, muito obrigada mesmo, pelas mensagens perguntando - e até pedindo! - pelo meu retorno. Isso me animou a voltar. Desculpem estar um pouco (muito) enferrujada! Agradeço também ao cronista, colega Sergio Geia, novo administrador desse blog, por aceitar uma escritora que não escreve crônicas, mas contos! Beijos e até daqui a 15 dias!

Plínio – nome de origem latina - pleno, rico, abundante. Aquele que é bem-sucedido, que possui grande capacidade de desenvolver boas criatividades.

Andreija – nome croata originado do nome grego André – másculo, viril; enérgico, robusto, valente.

Foto cubo:  cube-427897_960_720 Geralt 19157 pixabay
Foto estrelas: milky-way-1655504_960_720 Hans 22248 images pixabay

Comentários

Marcio disse…
Se fosse dado a cada um o direito de escolher o próprio nome, a partir da assunção das plenas capacidades civis (aos 18 anos, no Brasil atual, por exemplo), talvez os nomes mais frequentes fossem adjetivos que pouco ou nada descreveriam do nomeado.
Ou mesmo haveria a multiplicação dos nomes da moda, por mais esdrúxulos que sejam.
Em resumo: tudo poderia acontecer. Inclusive nada.
E obrigado por voltar a nos brindar com seus textos, Zoraya! Estava fazendo muita falta!
sergio geia disse…
O Crônica não é o mesmo sem seus contos. Muito bem-vinda, amiga!
Anônimo disse…
Finalmente voltou! estava órfão dos seus textos ...
Clarisse Pacheco disse…
Um brinde à incansável mania do ser humano em buscar significado em todas as coisas...
ah, mas como eu estava com saudade dessa linda! como é bom te ler de novo por aqui!

nomes! pro Plínio não deu certo, mas na dúvida é melhor evitar aqueles que sugerem uma sorte infeliz... sabe como é, né? no creo en las brujas, pero que las hay, las hay...
Unknown disse…
Zozô!!! Adorei! Nada de mortes nem criaturas malignas...hahaha Tão fofo, tão fofo o conto da criatura desajeitada e maltrapilha kkk
Fred Fogaça disse…
Ótima cronica Zoraya!
Zoraya Cesar disse…
Márcio - eu q agradeço, sempre. Vc foi um dos responsáveis pelo meu retorno.!

Sergio - muito obrigada, Cronista das Pequenas Coisas. De verdade.

Anônimo - uau, isso foi mto bonito, obrigada!

Clarisse - hahaha, pois não é? Temos de nos encontrar pra falarmos sobre isso.

Aninha - concordo plenamente, e, como vc bem sabe yo creo en las brujas kkk. E obrigada, Querida, pelas palavras e apoio de sempre.

Unknow - eu sei quem vc é hahahaha, só vc mesmo pra achar 'fofa" uma história triste dessas kkkk. Mas nao se anime nao q em breve meu lado serial killer tá de volta...

Fred- Puxa, obrigada! Q bom q gostou!

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