VOLUNTÁRIOS DA PÁTRIA >> Albir José Inácio da Silva
Sempre que se ergue da justiça a
clava forte, não faltam voluntários dispostos ao sacrifício e à glória em nome
da pátria. Principalmente quando se trata de lutar contra tiranos, comunistas e
demônios que frequentemente habitam a mesma pessoa. Somos fanáticos por
democracia, justiça social e pelo Estado Democrático de Direito.
Quando historiadores vermelhos insistem
em apontar um tempo maior de ditadura que de normalidade democrática na nossa
jovem e acidentada República, fica evidente o partidarismo, já que chamam de
ditadura justamente os períodos em que erguemos a clava forte para combater o
mal e defender a liberdade. É exemplo disso o AI-5, remédio amargo e necessário
para eliminar do país os comedores de criancinhas.
Mas esse sentimento de
patriotismo e brasilidade é anterior à República. O nome “Voluntários da Pátria”,
presente em ruas de quase todas as capitais brasileiras, é homenagem aos heróis
que lutaram e morreram na sangrenta guerra do Paraguai.
Quase metade dos voluntários
perderam a vida, foram feridos ou ficaram inválidos. Mas foi por uma causa
nobre: combater a ditadura de Solano Lopez. Os combatentes brasileiros eram, em
grande parte, mendigos, escravos foragidos – a quem se prometeu alforria ao
final da guerra, e escravos que foram alistados pelos seus senhores – a quem
foi permitido enviar escravos em seus lugares. O próprio Imperador Pedro II
libertou os escravos das fazendas imperiais, desde que fossem à guerra.
Os que regressaram estavam livres,
doentes, aleijados, desempregados e foram morar nos morros dando início à
favelização. Mas foram heróis ou não seriam nome de rua.
O Paraguai acabou. Aquele bando
de índios descalços, famintos e provavelmente comunistas foi exterminado a tal
ponto que a poligamia foi admitida e estimulada para repovoar a região.
Na segunda guerra mundial, os
voluntários mais uma vez atenderam à convocação da pátria. Dessa vez para
combater Belzebu incorporado em Hitler e suas hostes. Verdade que a princípio
não havia muita certeza quanto à malignidade de Hitler. O Brasil tinha lá seus namoros
comerciais e ideológicos com o Reich, a ponto de entregar Olga Benário para
morrer na câmara de gás.
Mas a dúvida ficou resolvida com a
pressão do Tio Sam e o afundamento de dezenas de navios brasileiros por
submarinos de bandeira alemã. Fofoqueiros de plantão, que sempre os há, juram ter
ouvido o idioma inglês nesses submarinos. Provavelmente confusão do observador,
já que inglês e alemão são línguas germânicas.
Mas voltemos ao tema. Convocados
por Vargas, o pai dos pobres, mais uma vez os pobres não refugaram. O que não
impediu que metade dos que se apresentaram tenha sido reprovada pelo exame de
saúde.
Dessa vez a promessa não era de
alforria, mas de alguma vantagem como trabalho, seguro social, facilidade para
aquisição da casa própria, assistência médica, honra, glória e o nome inscrito
na História do país.
Nossos heróis chegaram à Itália
com treinamento para canhões da primeira guerra e roupas de brim. Os americanos
ensinaram a usar canhões de segunda guerra e nos deram roupas para o inverno de
menos vinte, sem o que teríamos perecido antes de levar um tiro. Mas guerra com
equipamentos é para amadores. Heróis marcham pela fé.
Embora recebidos com festa ao
final da guerra, a sina desses combatentes não foi muito diferente dos seus
colegas do século anterior. Com medo da popularidade dos pracinhas, as
autoridades os mantiveram em silêncio porque tinham medo que se transformassem
em força política. Os heróis foram devolvidos ao mercado de trabalho, apesar de
suas limitações, e entregues à sua própria sorte, mesmo com os traumas
decorrentes dos combates. Mas ganharam monumentos espalhados pelo país.
Agora, neste início de século
XXI, embora nenhuma convocação oficial tenha ainda emanado das autoridades
constituídas, alguns patriotas já farejam o cheiro de enxofre vindo do norte,
num claro indício de que Satanás, desta vez manifestado em Maduro, pretende
espalhar a URSAL pelo continente.
Estes bravos se oferecem pelas
redes sociais porque já não lhes cabe no peito o patriotismo. Não dormem
tranquilos enquanto não salvarem o povo venezuelano. Nem que para isso tenham
de massacrar um bando de índios famintos, descalços e marxistas, como costuma
fazer o Tio Sam em terra que tem petróleo.
Desta vez o chamado veio em forma
de revelação só alcançada pelos corações contritos. Não há promessas de
vantagens ou prêmios pela coragem. O que os move é tão somente o sentimento
genuíno de amor à justiça e à democracia – sempre tão ameaçadas pelas hostes
comunistas, bolivarianas e demoníacas.
Vivas à pátria! E a bênção, Tio
Sam!
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