QUATRO ESTAÇÕES, QUATRO MESMO >>
Fernanda Pinho
Os
termômetros marcaram a temperatura mais alta do ano essa semana, em Belo
Horizonte. Foi o que eu li por aí, pois não estou lá (infelizmente). Poderíamos
especular que é o verão despedindo-se em grande estilo, já que em duas semanas
entramos no outono. Poderíamos, se esse negócio de quatros estações já não
tivesse saído de moda há tempos no Brasil. Em Belo Horizonte, pelo menos, o que
eu percebo é um verão de 12 meses, com ocasiões bem pontuais em que faz frio,
garoa, venta. O que eu não julgo ruim, pois como eu não perco a oportunidade de
dizer, me sinto muito bem quando faz calor.
Porém,
pela primeira vez na vida, estou tendo a chance de apreciar de verdade as
quatro estações do ano, cada uma em sua peculiaridade. O mais próximo que eu já
tinha estado dessa realidade havia sido por aquelas folhinhas de antigamente
(ou calendário, se você não for tão de antigamente) em que fotos que remetiam a
cada estação ilustravam o mês em que elas supostamente começavam.
Santiago
é exatamente como essas folhinhas. E agora já posso falar com a experiência de
quem está completando um ano morando aqui e que, portanto, já viu as quatro
estações acontecerem. O cenário que temos agora, de fim de verão, é esse: dias
ensolarados, com brisa leve no fim da tarde, e uma paisagem começando a
adquirir tons de sépia. Começo a notar que muitas árvores (muitas mesmo, pois a
cidade é lindamente arborizada) já estão com folhas secas, prestes a cair. O
que, a depender da organização climática daqui, só deve ocorrer mesmo quando o
outono chegar. Aí, os parques e calçadas
ganham a cobertura de um convidativo tapete de folhas. Caminhar sobre elas
escutando o “creck-creck” sob os nossos pés ou simplesmente deixá-las passar
por nós ao sabor do vento é uma experiência bucólica e quase cinematográfica. É
bem isso. Me sinto como num filme. Como
em Outono em Nova Iorque. Só que em Santiago.
O
inverno, por sua vez, me tira da tela de cinema e me transporta para a
embalagem de um chocolate da minha infância – que agora não me ocorre o nome –
na qual aparecia o desenho de uma montanha coberta de neve. Eu odeio o frio,
mas a paisagem é tão linda que chega a compensar. Especialmente depois das
noites de chuva. Pois é, aqui chuva é propriedade do inverno e ela vem
(geralmente à noite), limpa a poluição atmosférica e vai embora deixando um céu
azul e uma cordilheira espetacularmente branca.
Eu quase começo a gostar de tomar um café, enrolada num cobertor. Quase.
Porque
em setembro a primavera chega implacável me lembrando que branco e azul pode
até ser bonito mas é pouco pra mim. Eu gosto de amarelo, vermelho, laranja,
lilás e cores que a gente nem sabia que existia e, de repente, nos saltam aos
olhos em uma florzinha nascendo no meio do nada. É incrível como as flores
nascem por toda parte por aqui e em tantas espécies. Mas com a educação de só
exibiram todo o exagero de suas belezas na estação que lhes corresponde. As flores são delicadas e gentis. Por isso
nem ousam disputar espaço com o sol quando a estação é dele.
E
quando a estação é dele já nem se vê vestígio de neve na cordilheira (não do
ponto de vista da cidade), centenas de fontes de água umedecem praças e
esquinas, as chilenas abandonam a moda da sobreposição de roupas e eu posso,
enfim, sambar minha brasilidade de Havaianas por aí. Até a próxima página do
calendário ser arrancada e cair como uma folha seca de outono.
Comentários
Beleza de imagem Fernanda.
Vou incluir Santiago nos meus próximos roteiros de viagem!
Beijos!
Cronica muito gostosa. Que me deu uma saudade louca da capital chilena e que reforçou minha vontade de morar aí.