PASSOS DE FORMIGA SEM VONTADE
>>Eduardo Loureiro Jr.
Não entendo. Juro que não entendo. Tem dias que não me entendo. Não sei o rumo. Quero saber o sentido das coisas e não atino. Onde é que essa estrada vai dar? Não tenho ideia.

Admiro as pessoas que olham para a frente com convicção, que sabem onde vão chegar. Aquele tipo de gente que, quando criança, já sabe a profissão que vai seguir, para quem o futuro é tão claro quanto o passado. Mesmo as pessoas que não sabem para onde vão, mas que seguem agarradas a algo como um filho, um casamento, uma religião, um emprego, mesmo essas — que eu não admiro — talvez eu inveje por simplesmente seguir o curso dos dias sem se questionar tanto.
Às vezes — mais vezes do que eu gostaria — olho para frente e não vejo quase nada. Da mesma forma, olho para trás e vejo pouco. O que fiz da vida? O que vou fazer? Agora mesmo, o que faço? Falta-me vontade real das coisas como às vezes tenho vontade real de comer um balde cheio de pipocas. Não tenho esses desejos, quereres, gostares. E tampouco antipatias, mal-quereres: não tenho ojeriza a nada, tudo me parece aceitável dependendo da ocasião. Devo ter, então, inveja dessas pessoas que amam ou odeiam.
(Ainda ontem, assistindo ao meu São Paulo enfrentar o Avaí, num primeiro tempo difícil, zero a zero, lamentei — fazendo mesmo uma cara de grande insatisfação — que, após uma linda tabela com passe de letra, o time adversário não tivesse concluído a jogada em gol. Fiquei até mesmo desapontado com o zagueiro do meu time por ser tão eficiente e impedir aquele que seria um golaço, uma obra-prima. Entendem agora o que quero dizer?)
Invejo os que xingam o juiz por um pênalti não marcado mesmo depois que viram o replay e constataram que o atacante do seu time se jogou — cenicamente — na área. Invejo o evangélico de paletó que faz pregação — todo empolgado — no meio da praça. Invejo os que brigam e matam por um ideal — por mais torto, antiético e sem sentido que seja.
Meu balde de pipoca emocional, aquilo que costuma me mover com uma força que em tudo mais me é desconhecida, é a paixão. Quando me apaixono, quero o impossível que seja, mas quero; faço a besteira que for, mas faço. Não hesito, não vacilo. Sigo em frente. Entretanto, o que sobra de uma paixão? Desilusões, desfeitas, rompimentos... no máximo, algumas boas histórias para contar.
Esta crônica é outro exemplo. Neste domingo, não estou com vontade de escrever — o que é até raro. Mas em vez de me entregar a isso, de não escrever mesmo, de viver segundo essa ausência de vontade, o que faço? Escrevo. Não tenho constância no que quero nem no que não quero. Minha vida é curta, feita de momentos muito pequenos, de fragmentos que não se combinam. Sou uma bala ricocheteando sem atrito — e sem fim — num quarto vazio. Até aqui, tive o benefício da juventude. Mas até quando? Quanto tempo mais a vida parecerá estar se abrindo? E quando ela começar a fechar o cerco?
Terminarei feito uma crônica sem frase de efeito?
Comentários
Como diria a Bina: Normal :o)
Um palpite: A vida é abundante e parecerá se abrir sempre....
Uma decisão na minha vida: Não parar de caminhar e buscar sempre o sol...
Desejo para você: Paixão pela vida.
Bj,
Tia Monca
Beijos
cara, acho que hoje, como raramente, estamos muito parecidos. isso faz eu me sentir menos sozinho, obrigado.
abraço do leo.
Como entender o imcompreensivel?
Cheio de emoções que não querem sair, somente me consomem por dentro,
Como ver o futuro estando preso ao passado?
Como entender a perfeição? Sendo eu tão imperfeito.
Como terminar uma cronica sem frase de efeito?
Haverá um tempo em que todas essas inquietações serão olhadas com complacência e placidez. Hoje, quando os arroubos da juventude já não me fazem companhia e um luar de prata, cisma em desenhar alguns fios brancos, em meus cabelos, sinto-me na plenitude da vida... É que, ao olhar para trás, eu vejo o quanto de vida perdi por coisas que, realmente, não tinham a menor importância. A melhor idade é aquela em que você já não se leva tão a sério e ao mesmo tempo, tem o discernimento e a sabedoria de continuar aprendendo... Carpe Diem!
Quando eu crescer quero ser assim, como você, sem hesitar e sem vacilar.
beijo grande, grande guri.
bj
klaudya
Karine, grato pelo sopro de esperança. :)
Léo, Pensamentos soltos e Klaudya... mesmo barco, hein? Vamos remar então. :)
Caramba, Vinícius e Kahuan! Eu pensei que tivesse chegado ao fundo do poço. Grato por cavarem mais um pouquinho. :)
Juliêta, grato pelo alvo da "melhor idade". Vou apontar a flecha. :)
Claudia, tire a crônica da gaveta. O sentido passa, mas os textos são eternos. :) E onde é que tu quer chegar, mulher, crescendo ainda mais? :)
Você me fez lembrar Fernando Pessoa:
"É
maior que tu?
- Sê".
Grande abraço!
Marcos Afonso
achei essa sua crônica bem corajosa. Isso sim.
Pelo menos eu, sinto que todo mundo tem tanta constância, tanto empenho, tanta força de vontade, que, vira e mexe, sinto-me de fora, por ser assim, um bocado "tanto faz"... Talvez você não seja tanto "tanto faz" assim, como eu. Mas me identifiquei com a inconstância.
beijos