PARA QUEM ACREDITA NO NOEL >> Sergio Geia

 


Era dezembro. Não um dezembro pandêmico como o atual (pós-pandêmico?). Era um dezembro suave, com as pessoas zanzando pelas ruas, sem máscaras, se abraçando e se beijando nas esquinas. 

O menininho morava perto de uma loja de brinquedos. Ele brincava com amiguinhos quando de repente a enxergou. Foi amor à primeira vista. Eram muitas bicicletas enfileiradas, uma ao lado da outra. E todas iguais: quadro violeta, ultravioleta, pneus pretinhos e perfumados — perfume de pneu novo, claro; e as manoplas eram macias, ele até as tocou. Então, desde aquele instante, o menininho começou a sonhar. 

Chegando em casa, imaginem qual foi a primeira coisa que o menininho disse à mãe e ao pai? Sim, isso mesmo que você pensou, afinal, estamos falando de uma criança, e o mês era dezembro. Ele disse que já sabia qual era o presente de Natal que iria pedir. Quando os pais ouviram o pedido ficaram tristes, pois sabiam que não tinham dinheiro para comprar. Mas não falaram nada, nem que sim, nem que não. 

Dia após dia o menininho passava na loja de brinquedos para namorar a bicicleta. Quando chegava em casa contava o feito, aumentando a preocupação de seus pais. Até que não teve jeito. Um dia, eles chamaram o menininho e falaram a verdade: não tinham condições de comprar a bicicleta, ela era muito cara; que o menininho escolhesse outro presente, um caminhão de madeira, por exemplo, um Forte Apache, ou um jogo. Naquela noite, escondido, o menininho chorou. 

Depois da conversa com seus pais, o menininho parou de ir à loja de brinquedos. Não queria mais ver a bicicleta. No dia 23, no entanto, passando perto da loja, ele avistou o Papai Noel, e uma ideia bobinha lhe passou pela cabeça. 

Esperou o Noel ficar sozinho. Quando isso aconteceu, ele se aproximou: 

— Papai Noel, eu queria ganhar uma bicicleta. 

— Uma bicicleta? Muito bem. E você já escolheu a bicicleta que quer ganhar?

— Já! Aquela, Papai Noel, aquela! — e apontou a bicicleta da loja de brinquedos. 

Interessado na indicação, o Papai Noel colocou a mão no ombro do menininho e os dois foram juntos à porta da loja, onde estavam dispostas as bicicletas. 

— É essa a bicicleta que você quer ganhar? 

— É, Papai Noel, essa mesmo. 

O menininho não compreendia, mas algo forte lhe dizia que o Papai Noel iria atendê-lo. Mas então chegou outra criança, e outra, e outra, e o Papai Noel se retirou para atendê-las. 

No dia 24 de dezembro, a família se reuniu: tios, primos, vó, vô, amigos. Os adultos combinaram levar a criançada para fora de casa, enquanto um deles arrumaria os brinquedos próximo à árvore de Natal, todos com um cartão com o nome da criança favorecida; eram tantas. 

Quando deu meia-noite, a avó saiu correndo na rua dizendo que Papai Noel tinha passado por lá e enchido a sala de presentes. Foi um reboliço só. Ainda havia um fio de esperança, e o menininho sonhava que Papai Noel o atendesse. De longe, avistou a grande árvore cobrindo muitas caixas de presentes mas, como era de se esperar, nenhuma bicicleta. Então se aproximou tímido e ficou apenas a observar os primos à cata de seus presentes. 

Sobrou apenas uma última caixa, pequena, leve como uma pena, com um cartão com o nome do menininho. Os pais estranharam pois não era aquela a caixa de presente que tinham comprado. Quando o menininho abriu a caixa, encontrou apenas um bilhete dizendo que seu presente tinha sido entregue na sua casa, e quem assinava o bilhete era o Papai Noel. 

Não teve jeito. Os pais e o menininho cearam rapidamente e logo foram embora. Ao chegar em casa, para a incredulidade de seus pais, havia uma bicicleta bem embaixo da árvore de Natal. O menininho logo a reconheceu, era a mesma da loja de brinquedos que ele tanto sonhara em ganhar. Então, naquela noite, o menininho chorou, mas desta vez de alegria. 

Mais do que ganhar a bicicleta tão sonhada, ele estava contente também porque conhecera o Papai Noel, o Papai Noel de verdade, que deveria morar na Lapônia, como ouviu alguém dizer. 


P.S.: Essa história bobinha, mas verdadeira — não vou contar a solução do mistério, claro! —, foi a forma que encontrei para encerrar mais um ano de crônicas por aqui. Boas-festas, queridos. Que vocês acumulem muitas histórias para contar, ainda que bobinhas, alegres ou tristes, pois assim é a vida. Saio de férias e retorno em 29/01/2022. Até lá.

Comentários

Anônimo disse…
As vezes a vida já é tão cruel, sonhar não custa nada. E uma criança não pode perder a esperança, o lúdico e a imaginação. Natal é isso, quem sabe aparece um Noel que realiza o sonho de uma criança. Que não percamos a esperança de dias melhores. Bom final de ano!
Paulo Barguil disse…
Estamos precisando de um Noel assim, Sérgio! Boas festas e férias.
Zoraya Cesar disse…
Ahhhhh q historinha mais LINDINHAAAAA!!!! e ainda por cima verdadeira? Mas nem que não fosse, já alegraria meu coração de Lady Killer. fofíssima demais! Amo finais felizes!
Albir disse…
Algumas vezes, só o sonho nos salva! Boas férias, Fofucho!
Darci Siqueira disse…
Com um pouco de atraso no comentário,em toda minha vida, só participei de um natal que tinha alguém de Papai Noel, e era você mesmo o Papai Noel. Naquele natal de 1987 eu havia fugido do velório do meu avô, e foi você que me ajudou; era pela lógica o mais triste casa sua avó e tia, da Barão da Pedra Negra; quando um jovem entrou com os presentes e sob gritos e risos distraia até a dor de quem não era criança rsrsrs. Aproveitando sua crônica, lembrando de 87, obrigado amigo Papai Noel, pelo meu presente.

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