PAPEL >> Eduardo Loureiro Jr.

O papel parece coisa pouca, mas é ele muitas vezes o primeiro tabuleiro das crianças em seu jogo-da-velha.

Vencido pelo corte da tesoura, o papel embrulha e vence a pedra. São de papel as pipas, as raias ou os papagaios. De papel são os concentrados cadernos, e também os descontraídos confetes e suas repentinas serpentinas. Beijos-de-moça são envoltos em papel e dele são as línguas-de-sogra. Ficam nele, no papel, muitos sonhos de mocidade.

As lembranças — cartas e fotografias — são de papel e ficam guardadas em embalagens e caixas, também de papel.

Cédulas, cardápios, exames, multas, diplomas, documentos em geral, estão em papel. Está escrito, papel passado, é compromisso. Se for preciso, é filtro, lixa, adesivo. Sem distinção de raça — branco e pardo —, papel.

Nele se fixa, nele se imprime. Papel que tudo aceita: lembretes, rabiscos, rascunhos e obras-primas.

Papel dúplex e de muitas outras faces: papel-alumínio, papel-bíblia, papel-carbono, papel-manteiga, papel almaço, papel cuchê, papel crepom, papel machê, papel higiênico, papel timbrado, papel seda, papel vergê... Papel contínuo, de longa linhagem.

Papel onde se tece — texto — com palavras. Livros de papel, ainda, seres quase humanos que têm até orelhas. Filho da árvore que à mãe homenageia no nome de sua filha — folha.

No calor, no climatério, o leque é vento — de papel.

Papel eterno, que não morre, se recicla e se reedita.

Talvez por isso, talvez por tudo isso, o primeiro aniversário de casamento tenha exatamente o nome de Bodas de Papel.

Comentários

Cristiane disse…
Quando se "vence" a bodas de papel o caminho se abre para se chegar às de ouro.

Bela crônica, Eduardo! Gostei. Olho para os lados neste quarto-escritório e há papéis por todos os lados. Só não é de papel esta tela que leio e você escreve, mas há nela também o fundo branco com a tinta preta imitando papel.

Grande abraço,
Marilza disse…
Eduardo, já te falei que espero ansiosamente pelo domingo? Só pra ler suas crônica. Pena que não estejam no papel, mas na tela.
Unknown disse…
Genial! Acho que vou imprimir só pra ter em papel! :)
A propósito, você e Alba estão fazendo Bodas de Papel? Se sim, parabéns ao casal!
Chef disse…
Meu amigo, parabéns ao casal pelas bodas e a você pela crônica. Não fosse por ela eu teria esquecido. Seria um papelão! :)
Tia Monca disse…
Junoca,
Muito interessante!
Fiquei curiosa prá saber como foi sua relaçao com o papel nos primeiros escritos :o)
Que essa passagem, pro próximo capítulo, seja vivida com muito amor e que este seja de muita leveza e alegria.
Parabéns pelas bodas e pela crônica!
Tia Monca
albir disse…
Edu,
sua crônica é uma dobradura.
Carla Dias disse…
E com a beleza toda do papel, e a sua variedade, a gente vai vivendo o nosso papel... De pessoa que gosta do papel para timbrar nele a paisagem de quem somos.
Lindo texto!
Grato, Cris. A tela faz o papel do papel. :)

Marilza, ainda esse ano alguns textos meus e de outros autores do Crônica do Dia estarão no papel. Brigadim por estar sempre aí do outro lado. :)

Grato, Fernanda. E poupe essa folhinha de papel. Se está impresso no seu coração, já está bom demais. :)

Meu amigo Felipe, você é o rei dos trocadilhos. :) Grato.

Grato, Tia, pela bênção.

Albir, e eu que quase refaço a crônica por não ter feito uma referência ao origami... :)

Grato, Carla. Seu timbre, sua marca, valoriza o papel e o papel. :)
Marilza disse…
Eduardo, há tempos estou pra te dizer isso: vc é um gentleman! Responde a cada comentário com educação e carinho.
Isso, não há papel que pague e apague....rs
Grato, Marilza. Cheguei a me ver de cartola, fraque e bengala. :)
vitorbasilio disse…
Muito legal fiz zté um trabalho de portugues em cima desta cronica.
Que coisa boa, Vitor! Divulgue aí nosso site entre colegas e professores. E volte sempre.
Oi, Eduardo. Cheguei de viagem há pouco e para que não faça um "papelão" deixo também aqui minha marca de agradecimento pelo papel que você exerce tão bem em resposta ao dom que recebeu, deixando nossos domingos muito mais alegres e reflexivos.
Beijos
Grato, Marisa. :) Que bom que você chegou de viagem a tempo. :)
Nilza Rezende disse…
Uma pérola tua crônica, Eduardo. Adorei! um beijo.
Manu Kelé disse…
Papel folha da poesia, onde são marcadas as dores e alegrias da vida!
Manuzinho, você é uma das tintas preferidas do papel de poesia da minha vida.

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