MAUS ENTENDEDORES
>> Eduardo Loureiro Jr.
Tenho evitado falar mal. De livro, de filme, de disco, de programa de TV. Falar mal é apenas uma forma alternativa — e ingênua — de fazer propaganda. Ultimamente tenho preferido falar bem das coisas que vejo, leio, escuto e gosto. Mas hoje vou pedir licença aos meus leitores para falar mal um pouquinho de vocês, dos leitores. Claro que não me refiro a todos, nem à maioria deles, mas o justo vai pagar pelo pecador.
Eu não sei se o problema é não ler, não entender ou não obedecer. Também não sei o que é pior: o leitor ser um analfabeto funcional, um burro ou um desobediente. Talvez o leitor prefira ser desobediente, já que a rebeldia se tornou um comportamento de moda, mas confesso que prefiro os burros e os analfabetos funcionais, pois estes teriam conserto. Rebelde não tem conserto: não é possível ensinar um rebelde porque ele se insurgiria contra o próprio aprendizado.
O caso é que inventei de fazer uns projetos, vários projetos, e esses projetos envolvem solicitar coisas das pessoas. E sempre aparece uma criatura, ou duas, ou dez, para desobedecer. Chega a ser divertido quando você está sem pressa. Nas minhas aulas, passei a incluir em meus planejamentos flexibilidade suficiente de tempo, de espaço e de recursos para dar conta desses gatos-pingados da desobediência. Quando um desobediente se manifesta, rio, gargalho e o ridicularizo em público, mas só um pouco, com cuidado, com jeitinho, para que o pobre coitado não se torne, além de rebelde, traumatizado.
Mas esses projetos em que me meti são coisa nova e, em meu planejamento de tempo, espaço e recursos, não previ muitas sobras. O limite é pequeno e os desobedientes não estão me fazendo rir.
O leitor, a essa altura, deve estar querendo um exemplo. Não posso dá-lo. Não posso dar um exemplo real porque corro o risco de alguns dos desobedientes exemplificados lerem esta crônica, e não quero me indispor com rebeldes, o que só aumentaria sua rebeldia. Darei, então, um exemplo contrário, de obediência, trazido pelo acaso, pelo santo protetor dos cronistas que precisam relatar um exemplo, mas não podem usar o exemplo real.
Enquanto escrevia o parágrafo anterior, minha enteada pediu que eu copiasse para ela um vídeo que está no meu computador. "É só trazer um pendrive de pelo menos 2Gb de capacidade que eu copio", falei. Segundos depois, recebo o pendrive, insiro-o no notebook e checo a capacidade: 2Gb. Exemplo perfeito de leitura, entendimento e obediência. Sabe o que aconteceria se eu pedisse a dez pessoas, por escrito, um pendrive de 2Gb?
Sete "leitores" fariam como minha enteada: me trariam um pendrive prontinho para que eu fizessse a cópia do arquivo. Agora, sabe o que me trariam os outros três "leitores" de minha solicitação por escrito?
O primeiro me traria um pendrive de 1Gb. E, quando eu dissesse, "o vídeo não vai caber, eu preciso de um pendrive de, pelo menos, 2Gb", ele diria, "ah, tá", e talvez voltasse daqui a alguns segundos com outro pendrive.
O segundo "leitor" me traria um pendrive de 2Gb completamente preenchido de arquivos. "Esse está cheio", eu diria. E o desobediente "leitor", todo sorridente: "Ah, pode apagar. Tudo não! Apaga as músicas. Não, essa aí não. Ai, acho que tem uns documentos importantes que eu só tenho aí. Deixa essa pasta todinha. É a que ocupa mais espaço? Não, esse vídeo não, esse vídeo eu ainda não vi..." E por aí vai. O que deveria ser uma cópia de arquivo se transforma numa faxina digital.
O terceiro "leitor" chegaria com um CD virgem nas mãos. "Não tenho pendrive, serve CD?". "Não, não serve, não cabe.". "E se for um DVD, cabe?". "Caber, cabe, mas eu não tenho como gravar DVD, por isso pedi um pendrive?". "Ah, seu notebook é velho, né? Deixa eu ver se consigo um pendrive ali, volto já".
Então... eu já sei que, para bom entendedor, meia palavra basta. Mas me diga, por favor, me diga: para um mau entendedor, esta crônica basta ou eu preciso acrescentar mais alguma coisa?
Eu não sei se o problema é não ler, não entender ou não obedecer. Também não sei o que é pior: o leitor ser um analfabeto funcional, um burro ou um desobediente. Talvez o leitor prefira ser desobediente, já que a rebeldia se tornou um comportamento de moda, mas confesso que prefiro os burros e os analfabetos funcionais, pois estes teriam conserto. Rebelde não tem conserto: não é possível ensinar um rebelde porque ele se insurgiria contra o próprio aprendizado.
O caso é que inventei de fazer uns projetos, vários projetos, e esses projetos envolvem solicitar coisas das pessoas. E sempre aparece uma criatura, ou duas, ou dez, para desobedecer. Chega a ser divertido quando você está sem pressa. Nas minhas aulas, passei a incluir em meus planejamentos flexibilidade suficiente de tempo, de espaço e de recursos para dar conta desses gatos-pingados da desobediência. Quando um desobediente se manifesta, rio, gargalho e o ridicularizo em público, mas só um pouco, com cuidado, com jeitinho, para que o pobre coitado não se torne, além de rebelde, traumatizado.
Mas esses projetos em que me meti são coisa nova e, em meu planejamento de tempo, espaço e recursos, não previ muitas sobras. O limite é pequeno e os desobedientes não estão me fazendo rir.
O leitor, a essa altura, deve estar querendo um exemplo. Não posso dá-lo. Não posso dar um exemplo real porque corro o risco de alguns dos desobedientes exemplificados lerem esta crônica, e não quero me indispor com rebeldes, o que só aumentaria sua rebeldia. Darei, então, um exemplo contrário, de obediência, trazido pelo acaso, pelo santo protetor dos cronistas que precisam relatar um exemplo, mas não podem usar o exemplo real.
Enquanto escrevia o parágrafo anterior, minha enteada pediu que eu copiasse para ela um vídeo que está no meu computador. "É só trazer um pendrive de pelo menos 2Gb de capacidade que eu copio", falei. Segundos depois, recebo o pendrive, insiro-o no notebook e checo a capacidade: 2Gb. Exemplo perfeito de leitura, entendimento e obediência. Sabe o que aconteceria se eu pedisse a dez pessoas, por escrito, um pendrive de 2Gb?
Sete "leitores" fariam como minha enteada: me trariam um pendrive prontinho para que eu fizessse a cópia do arquivo. Agora, sabe o que me trariam os outros três "leitores" de minha solicitação por escrito?
O primeiro me traria um pendrive de 1Gb. E, quando eu dissesse, "o vídeo não vai caber, eu preciso de um pendrive de, pelo menos, 2Gb", ele diria, "ah, tá", e talvez voltasse daqui a alguns segundos com outro pendrive.
O segundo "leitor" me traria um pendrive de 2Gb completamente preenchido de arquivos. "Esse está cheio", eu diria. E o desobediente "leitor", todo sorridente: "Ah, pode apagar. Tudo não! Apaga as músicas. Não, essa aí não. Ai, acho que tem uns documentos importantes que eu só tenho aí. Deixa essa pasta todinha. É a que ocupa mais espaço? Não, esse vídeo não, esse vídeo eu ainda não vi..." E por aí vai. O que deveria ser uma cópia de arquivo se transforma numa faxina digital.
O terceiro "leitor" chegaria com um CD virgem nas mãos. "Não tenho pendrive, serve CD?". "Não, não serve, não cabe.". "E se for um DVD, cabe?". "Caber, cabe, mas eu não tenho como gravar DVD, por isso pedi um pendrive?". "Ah, seu notebook é velho, né? Deixa eu ver se consigo um pendrive ali, volto já".
Então... eu já sei que, para bom entendedor, meia palavra basta. Mas me diga, por favor, me diga: para um mau entendedor, esta crônica basta ou eu preciso acrescentar mais alguma coisa?
Comentários
Acho que não se trata nem de burrice, nem de desobediência. Acho que é um misto de descaso, despreocupação e uma certa irresponsabilidade.
Bjos!
Fique tranquila Fernanda. Nossa turminha é 10. :)
e para ensinar os que não sabem ouvir, ler ou entender, basta vc fazer como eles: não ouça, não leia, não entenda. será mais fácil que se irritar.
Giovani, adoro esses conselhos tipo chutar-o-pau-da-barraca. :)
:)
bjs
Bjs.
Marisa, você, definitivamente, é o paraíso de todo "escritor". :)