CERTAS COISAS DENTRO DA CAIXA
>> Eduardo Loureiro Jr.
— Me diz por que é que eu me meto em certas coisas? — perguntou uma amiga enquanto esperávamos o início de uma reunião.
Eu sorri e respondi:
— Talvez pelo mesmo motivo que EU me meto em certas coisas.
E a reunião começou antes que minha amiga pudesse fazer a pergunta fatal, para a qual eu não tinha resposta: "Então por que VOCÊ se mete em certas coisas?".
Porque a verdade é que eu estou mesmo metido em certas coisas. Por exemplo, na produção do primeiro livro, da primeira coletânea de escritores, aqui do Crônica do Dia. E mesmo eu tendo convocado seis amigos para levar isso adiante comigo, tem horas em que eu me pergunto: "Homem rapaz, estava tudo tão tranquilo, cada um escrevendo e publicando sua própria crônica, você só tendo o trabalho de dar uma revisadinha e de escrever aos domingos, por que é que você foi se meter nessa história de livro?"
Incapaz de responder à pergunta, fui deixando para lá...
Até que me meti em outra certa coisa: um teatro de bolso, na falta de um nome melhor. Uma sala de teatro no subsolo do bloco C da quadra 711, aqui em Brasília, com capacidade para 30 pessoas. Fui ver uma peça infantil chamada Caixa de Memórias, encenada pelo VIRTÙ: Confraria Teatral, um nome pomposo para quatro atores: André, Fernanda, Maysa e Pedro. Confesso que fui mais por compromisso profissional, já que era uma sessão especial para os escritores da Casa de Autores, de que faço parte aqui em Brasília. O tamanho, a temperatura e a arquibancada da sala pareciam perguntar, em uníssono: "Eduardo, por que você se mete em certas coisas numa caixa dessas?" O que eu não desconfiava era de que, mais do que a pergunta, aquela caixa me traria a resposta.
O espetáculo — sim, é um espetáculo que faz justiça ao nome — foi me ganhando aos poucos, em sua inventiva simplicidade. A princípio, me encantei pela forma como os atores disputavam a narração da história, feito crianças combatendo pela posse de um brinquedo. Depois, a própria história, da relação de um menino com uma desconhecida, velha e misteriosa vizinha, foi tomando conta de mim, graças às mais variadas formas que o VIRTÙ encontrou de contar tal história: os personagens por vezes eram representados pelos atores, outras vezes por bonecos; objetos apareciam em tamanhos diferentes, grandes para o uso dos atores, pequenos para o uso dos bonecos.
Então o menino soube, por seus pais, que a velhinha havia perdido a memória. E por não saber o que era "memória", e por ninguém saber lhe explicar direito a não ser por qualificativos — doce, fria, antiga, faz chorar, vale ouro — o menino juntou objetos assim e assado numa caixa e presenteou sua nova velha amiga. E a cada objeto tirado da caixa pela velha (representada por voluntários da plateia) vinham à tona lembranças que a tal senhora havia "perdido".
Daquela caixa de memórias, saiu também a resposta para a minha pergunta sobre se meter em certas coisas...
Você se mete em certas coisas para ter uma história para contar sobre elas, para ter memória delas, para morar nelas e elas morarem em você.
Pois as histórias sobre o primeiro livro do Crônica do Dia, por exemplo, já começaram a surgir. A primeira delas sobre a escolha do nome da "criança": ACABA NÃO, MUNDO e outras do cronicadodia.com.br. Mas essa história eu não contarei aqui, deixarei para contar no próprio livro.
Por enquanto, basta lhe dizer, caro leitor, que as certas coisas em que a gente se mete são justamente isso: as coisas certas.
SERVIÇO
Espetáculo: Caixa de Memórias
Período: de 19 de fevereiro a 20 de março de 2011.
Sábados e Domingos às 17:30h.
SCLRN 711, Bloco C, Loja 5.
Eu sorri e respondi:
— Talvez pelo mesmo motivo que EU me meto em certas coisas.
E a reunião começou antes que minha amiga pudesse fazer a pergunta fatal, para a qual eu não tinha resposta: "Então por que VOCÊ se mete em certas coisas?".
Porque a verdade é que eu estou mesmo metido em certas coisas. Por exemplo, na produção do primeiro livro, da primeira coletânea de escritores, aqui do Crônica do Dia. E mesmo eu tendo convocado seis amigos para levar isso adiante comigo, tem horas em que eu me pergunto: "Homem rapaz, estava tudo tão tranquilo, cada um escrevendo e publicando sua própria crônica, você só tendo o trabalho de dar uma revisadinha e de escrever aos domingos, por que é que você foi se meter nessa história de livro?"
Incapaz de responder à pergunta, fui deixando para lá...
Até que me meti em outra certa coisa: um teatro de bolso, na falta de um nome melhor. Uma sala de teatro no subsolo do bloco C da quadra 711, aqui em Brasília, com capacidade para 30 pessoas. Fui ver uma peça infantil chamada Caixa de Memórias, encenada pelo VIRTÙ: Confraria Teatral, um nome pomposo para quatro atores: André, Fernanda, Maysa e Pedro. Confesso que fui mais por compromisso profissional, já que era uma sessão especial para os escritores da Casa de Autores, de que faço parte aqui em Brasília. O tamanho, a temperatura e a arquibancada da sala pareciam perguntar, em uníssono: "Eduardo, por que você se mete em certas coisas numa caixa dessas?" O que eu não desconfiava era de que, mais do que a pergunta, aquela caixa me traria a resposta.
O espetáculo — sim, é um espetáculo que faz justiça ao nome — foi me ganhando aos poucos, em sua inventiva simplicidade. A princípio, me encantei pela forma como os atores disputavam a narração da história, feito crianças combatendo pela posse de um brinquedo. Depois, a própria história, da relação de um menino com uma desconhecida, velha e misteriosa vizinha, foi tomando conta de mim, graças às mais variadas formas que o VIRTÙ encontrou de contar tal história: os personagens por vezes eram representados pelos atores, outras vezes por bonecos; objetos apareciam em tamanhos diferentes, grandes para o uso dos atores, pequenos para o uso dos bonecos.
Então o menino soube, por seus pais, que a velhinha havia perdido a memória. E por não saber o que era "memória", e por ninguém saber lhe explicar direito a não ser por qualificativos — doce, fria, antiga, faz chorar, vale ouro — o menino juntou objetos assim e assado numa caixa e presenteou sua nova velha amiga. E a cada objeto tirado da caixa pela velha (representada por voluntários da plateia) vinham à tona lembranças que a tal senhora havia "perdido".
Daquela caixa de memórias, saiu também a resposta para a minha pergunta sobre se meter em certas coisas...
Você se mete em certas coisas para ter uma história para contar sobre elas, para ter memória delas, para morar nelas e elas morarem em você.
Pois as histórias sobre o primeiro livro do Crônica do Dia, por exemplo, já começaram a surgir. A primeira delas sobre a escolha do nome da "criança": ACABA NÃO, MUNDO e outras do cronicadodia.com.br. Mas essa história eu não contarei aqui, deixarei para contar no próprio livro.
Por enquanto, basta lhe dizer, caro leitor, que as certas coisas em que a gente se mete são justamente isso: as coisas certas.
SERVIÇO
Espetáculo: Caixa de Memórias
Período: de 19 de fevereiro a 20 de março de 2011.
Sábados e Domingos às 17:30h.
SCLRN 711, Bloco C, Loja 5.
Comentários
Uma das coisas em que me meti e que me traz muita satisfação é ter, não sei por qual motivo, chegado, um dia, a esta página de cronicas. :)
Beijos
Ainda bem que você "se mete em cada coisa"...
Me lembrei do "Coisar"
Bjao
Marilza, no dia 26 de março, estarei em um evento astrológico na Livraria Cultura do Shopping Villa-Lobos, dando a palestra "Era uma vez um quincunce e foram felizes para sextil -- uma astrodramaturgia dos aspectos." E ainda este ano faremos o lançamento do primeiro livro do Crônica do Dia aí em São Paulo.
Carísia, você foi MUITO além das minhas intenções. :) Grato.
Tá gostando, né, Fernanda? :)
Grato pela torcida, Albir. :)
É, Fê... eu me coiso em cada coisa! :)