MINHA PEQUENA TERRORISTA
>> Kika Coutinho

Ela come areia, rasga cartas, engole pedras (pequenas, mas engole).
Ela quebra os eletrônicos, besunta-se de cocô, acorda inteirinha molhada de xixi.
Ela finge que vai te beijar e morde tua bochecha. Morde teu nariz e quase arranca a pele da tua mão com seus pequeninos dentes.
Ela anda na ponta dos pés, corre até cair, dança pra ficar tonta. Ela grita, chora, ri e esperneia em altíssimos decibéis.
Ela enfia o dedo na tomada, pega abelha com a mão e abraça – forte – o rottweiler desconhecido.
Ela bate no amigo, no inimigo e estapeia a mãe. “Não pode!”, gritamos, incansavelmente. Ela ri seu riso malandro e disfarça olhando pra cima.
Ela fala um idioma próprio, puxa os próprios cabelos e tenta arrancar as próprias orelhas.
Ela pula na pisicina, no mar ou na privada. Onde houver água, ela se joga.
Ela fecha o próprio dedo no armário, depois na gaveta, e depois na porta.
Ela beija o espelho, o copo de requeijão e a planta.
Ela come sabão, cospe água e engole pomadas de assadura – muita, muita pomada.
Ela passa feijão no cabelo, arroz no cabelo, purê de batata no cabelo, e deixa o suco de maga para o vestido.
Ela causa o caos, o barulho e – quase – o terror.
E é doce, amável e afetuosa.
É dengo, charminho e carinho.
Meu pequeno monstro, meu grande tesouro, meu maior amor.
Comentários
Adorei
Ah, o universo das crianças... Muito bacana a crônica. Beijos!
E quem resiste a essa carinha linda dela, me diz?
Adorei a crônica, pra variar!
Beijos