SOBRE PÉS BONITOS E JOANETES
[Ana Gonzalez]
Os pés nem sempre são peças que referenciem a beleza, mas todos somos por eles conduzidos na vida. Além dessa nobre função, eles fazem muitas histórias particulares. Em especial, pés bonitos sempre foram motivo de atenção por parte de homens e de mulheres, embora por motivos diferentes.
Os meus desde que começaram a apresentar joanetes, receberam cuidado especial.
E esta história começa muito cedo em minha vida, quando na adolescência vi um osso lateral começar a crescer no meu pé direito, algo que meu pai tinha. Simples joanete, nada grave, mas tive que começar a escolher melhor os sapatos. Lá estava a paternidade marcada a olho nu, muito aquém dos cromossomos e DNA.
Fui assim andando com o pé direito cada vez mais torto, até que o esquerdo também desenvolveu a anomalia. Nem isso me tirava do sério, ou seja, eu levava a questão naturalmente, mesmo longe da possibilidade de usar um sapato especial de bico finíssimo ou uma sandália cheia de tirinhas brilhantes.
Não havia a menor graça nos meus pés. Nada daqueles pés lindos e delicados que apareciam em propagandas, nas praias com os dedos pintados de muitas cores, lindas. Nada de uma presença para ser acariciada por namorado, em cenas íntimas e românticas. Por sua vez, os ortopedistas sempre me olhavam com interesse, indicando cirurgia. Que pés maravilhosos para uma operação, deviam pensar. Entretanto, nada me fazia sentir a necessidade de operar o desconsolo ósseo. Nem a vaidade nem a hipótese de um namorado tarado por pés.
Eu fugiria sempre do bisturi, como o diabo da cruz. Essa era a minha história. Como advogar pés tão feios de uma cirurgia? Arrumava muitos argumentos, e o principal deles era a ausência de dor.
Mas aconteceu que o pé esquerdo começou a doer de forma estranha. Numa viagem, em meio a largas caminhadas, percebi que não podia apoiar o pé. Sentia muita dor. Muito incômodo mesmo. Comecei a mancar. Um verdadeiro desastre ortopédico estava acontecendo. Era a primeira vez que eu me sentia tão reprimida nos movimentos, por causa dos pés. Rapidamente, comecei a rever meus critérios sobre cirurgia. Se fosse necessária – ai – que fosse logo.
Ao voltar para casa, tinha que resolver a questão do médico, pois o que me oferecia conforto e confiança tinha ficado no outro convênio abandonado. Outro tormento. Do caderninho do novo convênio, marquei logo três consultas.
Na primeira, o médico nem examinou os pés. Mandou que eu tirasse chapas e depois, me mostrando o óbvio, disse que eu deveria fazer a cirurgia. E que fosse logo nos dois pés de uma só vez. Claro que ele nem me ouviu em relação ao tipo de dor ou onde doía. Agradeci e fui ao segundo, dias depois.
Este me ouviu, fotografou o pé, viu as chapas, me pediu para ver a sola do meu pé e aí descobriu algo que eu não tinha visto.
Ele perguntou se era ali que doía. Confirmei. Olhei e fiquei surpresa em perceber que não tinha visto aquilo. Era um pequeno buraco ou uma formação meio dura na pele grossa da sola do pé. Ele então falou claro, diagnosticando: olho de peixe. Quer dizer, então, que a dor provinha daquilo?, perguntei. Sim, disse ele.
Não pude evitar o riso. Alívio e descompressão. Saí dali muito feliz. Como não se sentir cantante em meio a um mundo que se abre novamente?
Bem, o pé continua o mesmo, o olho de peixe (ui) vai dar um trabalhão, mas minha esperança de não passar pelo bisturi se manteve. Quer coisa melhor do que isso?
Site: www.agonzalez.com.br
Os meus desde que começaram a apresentar joanetes, receberam cuidado especial.
E esta história começa muito cedo em minha vida, quando na adolescência vi um osso lateral começar a crescer no meu pé direito, algo que meu pai tinha. Simples joanete, nada grave, mas tive que começar a escolher melhor os sapatos. Lá estava a paternidade marcada a olho nu, muito aquém dos cromossomos e DNA.
Fui assim andando com o pé direito cada vez mais torto, até que o esquerdo também desenvolveu a anomalia. Nem isso me tirava do sério, ou seja, eu levava a questão naturalmente, mesmo longe da possibilidade de usar um sapato especial de bico finíssimo ou uma sandália cheia de tirinhas brilhantes.
Não havia a menor graça nos meus pés. Nada daqueles pés lindos e delicados que apareciam em propagandas, nas praias com os dedos pintados de muitas cores, lindas. Nada de uma presença para ser acariciada por namorado, em cenas íntimas e românticas. Por sua vez, os ortopedistas sempre me olhavam com interesse, indicando cirurgia. Que pés maravilhosos para uma operação, deviam pensar. Entretanto, nada me fazia sentir a necessidade de operar o desconsolo ósseo. Nem a vaidade nem a hipótese de um namorado tarado por pés.
Eu fugiria sempre do bisturi, como o diabo da cruz. Essa era a minha história. Como advogar pés tão feios de uma cirurgia? Arrumava muitos argumentos, e o principal deles era a ausência de dor.
Mas aconteceu que o pé esquerdo começou a doer de forma estranha. Numa viagem, em meio a largas caminhadas, percebi que não podia apoiar o pé. Sentia muita dor. Muito incômodo mesmo. Comecei a mancar. Um verdadeiro desastre ortopédico estava acontecendo. Era a primeira vez que eu me sentia tão reprimida nos movimentos, por causa dos pés. Rapidamente, comecei a rever meus critérios sobre cirurgia. Se fosse necessária – ai – que fosse logo.
Ao voltar para casa, tinha que resolver a questão do médico, pois o que me oferecia conforto e confiança tinha ficado no outro convênio abandonado. Outro tormento. Do caderninho do novo convênio, marquei logo três consultas.
Na primeira, o médico nem examinou os pés. Mandou que eu tirasse chapas e depois, me mostrando o óbvio, disse que eu deveria fazer a cirurgia. E que fosse logo nos dois pés de uma só vez. Claro que ele nem me ouviu em relação ao tipo de dor ou onde doía. Agradeci e fui ao segundo, dias depois.
Este me ouviu, fotografou o pé, viu as chapas, me pediu para ver a sola do meu pé e aí descobriu algo que eu não tinha visto.
Ele perguntou se era ali que doía. Confirmei. Olhei e fiquei surpresa em perceber que não tinha visto aquilo. Era um pequeno buraco ou uma formação meio dura na pele grossa da sola do pé. Ele então falou claro, diagnosticando: olho de peixe. Quer dizer, então, que a dor provinha daquilo?, perguntei. Sim, disse ele.
Não pude evitar o riso. Alívio e descompressão. Saí dali muito feliz. Como não se sentir cantante em meio a um mundo que se abre novamente?
Bem, o pé continua o mesmo, o olho de peixe (ui) vai dar um trabalhão, mas minha esperança de não passar pelo bisturi se manteve. Quer coisa melhor do que isso?
Site: www.agonzalez.com.br
Comentários
v. é daquelas que tem coleção de sapatos que não usa? É a doença de Norton. Aplicou uma injeção de cortizona na sola do pé... Usei os sapatos uns meses, mas agora tô precisando ir no podólogo. Minha mãe não perdia sua consulta mensal.
V. me lembrou de tudo isto! Grata. Vou parar de comprar rasteirinha. Abraço, Marly L. Pisciolaro
o olho de peixe é super fácil de curar. eu inventei e comigo deu certo.
não está cheio de uns "buraquinhos" então, eu pensei se eu colocar esmalte por cima vou impedir esse olho de peixe de respirar e aí acho que acabo matando o bicho. E deu certo, foi minguando, minguando até sumir. pode passar esmalte incolor ou até base, o importante é deixar sempre coberto, sem respirar.
beijos,
Sonia Roque
Tenho feito uma colocação de remedinho, que é um ritual diário, chatinho, mas que deve estar deixando o bichinho tonto. (pelo menos é assim que o imagino, cambaleante... rs...). A dor nos pés diminuíram demais. Mas, a batalha ainda não terminou. Ele será surpreendido com o esmalte!
Marly, obrigada pelos comentários. bjssss
Ana González