DE BEM COM A VIDA >> Carla Dias >>


Em 1995, meses antes de me mudar de Santo André para a capital de São Paulo, decidi colaborar com uma instituição dedicada a ajudar portadores do vírus HIV. A vontade veio depois de me lembrar de quando minha mãe, na época atendente em um hospital, ajudava um casal portador do vírus, que vivia no mesmo bairro. Ajudava com a medicação e também com a atenção, porque ninguém queria sequer dirigir a palavra a eles.

Com um pouco de pesquisa, rapidamente soube de uma ONG na minha cidade e fui visitar o lugar. Iniciou-se ali uma colaboração de presença que, infelizmente, foi breve, pois meses depois eu me mudei, no susto, para São Paulo. Mas continuei a colaborar de outras formas, criando o site deles, produzindo um show beneficente... Não foi o suficiente (nunca o é!), mas sim o possível para a época.

Lembro-me do dia em que visitei esta ONG... Havia uma mulher, muito jovem, acompanhada de uma criança. Elas eram lindas, a menina era uma graça, sorridente, feliz. A pessoa que me acompanhava pela modesta casa que servia de base para a ONG me contou que se tratava de mãe e filha, e que ambas eram portadoras do vírus HIV.

Ela também me falou sobre a dificuldade em convencer a família de um portador do vírus a não apenas aceitá-lo, mas a ajudá-lo a manter o tratamento. Falo de 15 anos atrás, quando ainda não tínhamos acesso à informação como temos hoje, quando falar de AIDS quase sempre era encarado como atrevimento, não como o que de fato era: esclarecimento.

Hoje é o Dia Mundial de Luta Contra a AIDS. Atualmente, com o avanço da medicina, é possível que pessoas soropositivas levem uma vida normal. Porém, ainda se trata de uma doença sem cura. O fato de haver um tratamento que prolongue a expectativa de vida do soropositivo, e de a porcentagem de infectados ter diminuído, não significa que não haja contaminação.

Os jovens, que não presenciaram a descoberta da doença, quando ainda não se sabia como e por que um indivíduo era infectado, não têm a noção da importância do ‘informar para prevenir’. Se há remédio, a maioria prefere correr o risco, mas não se trata de uma dor de cabeça. Um comprimido não resolverá o problema.

Sabemos que há diversas formas de se contrair o vírus HIV, assim como sabemos que a AIDS não escolhe, diferente do que se pensava, a princípio, classe social, gênero, idade. Todos nós estamos sujeitos a ela.

Na segunda-feira, eu li no suplemente Folhateen, do jornal Folha de São Paulo, uma matéria sobre jovens soropositivos. A matéria informa que, entre 1991 e 2009, o índice de infectados por HIV aumentou 53% na faixa etária de 13 a 19 anos. A geração da informação disponível, da tecnologia de ponta, das possibilidades, também é a geração que inicia sua jornada sexual muito cedo, assim como experimenta drogas com mais facilidade. É preciso conscientizar os jovens de que também eles estão à mercê de contrair o vírus se não se cuidarem.

Cuidar de si deveria ser o primeiro item da lista da existência de uma pessoa. Como seres humanos que somos, sabemos que falhamos muito neste quesito. Ainda assim, é preciso que olhemos por nós mesmos, e com carinho, e que mostremos aos nossos jovens que a vida é muito mais do que uma boa transa ou uma viagem proporcionada por drogas. Ela é mais e melhor, apesar de todos os tombos.

Muna-se de informações e desejo de levar a vida com saúde: www.aids.gov.br.

E não se deixe levar pelo preconceito... Uma pessoa que vive com AIDS, vive.

carladias.com


Comentários

Importantíssimo lembrete, Carla.
Carla, vc sempre enriquece o Crônica, seja de arte ou de informações importantes.
albir disse…
Muito importante, Carla, muito bem lembrado. Fazemos coro.
Carla Dias disse…
Eduardo, Marisa e Albir... Obrigada por ler minhas importâncias.

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