PUXE UMA CADEIRA >> Carla Dias >>

Faça-me companhia, é o que peço. Sou pedinte humilde, meu caro, que não se importa com etiqueta ou rótulos, tampouco com dissabores. Abro a boca e aguardo ser alimentada pela sua história, querendo mais é que o mundo acabe em páginas em branco para eu recomeçá-lo dos alicerces da minha imaginação, numa dança de palavras que se encontram em coreografia inusitada.

Sirva-se de mim, do pecado aos bons costumes, paredes, assoalho, no jardim da nobre casa apelidada redenção. E entre um gole e um toque, peço que estreite laços, que ando faminta por aconchego, e novidades... Assopre-as em meus ouvidos. Invente-as se for preciso, que hoje não me importo. Hoje não.

Disseram-me que, se um dia me sentisse só, bastaria o sentir para que viessem todos: sonhos descabidos e irrealizáveis, afetos martirizados pelas mágoas, amizades interditadas pelo tempo e o espaço impostos, sempre prontos a angariar passado.

Acontece que hoje escolho a sua companhia, celebrando um remate amansado. Então, peço que fique, puxe uma cadeira, sente-se e sinta-se em casa, em um lar que é seu e onde conseguimos nos tornar proprietários de memórias na planta a serem construídas e usufruídas daqui a 24 meses, pagamento parcelado com o maior carinho e sem juros. Depois, podemos enveredar pelas estradas da partilha, das concessões, do embrenhar dedos ousados em indicações de saída mais do que necessária, opção há tanto tempo protelada pela ingênua – porém temida – caminhada rumo à novidade.

A novidade é que, meu caro, ando mais à disposição do que jamais estive. E quero tardes acompanhadas não apenas pelas chuvas de verão, mas também pelo olhar reconhecido, pelo dizer sinceridades, até que haja, entre nós, o mais próximo de uma verdade desinibida.

Neste agora me sinto deixada de lado, ao avesso, e reivindico salubridade, porque aprendi a comer em porções e a beber aos goles a honra de estar viva. E nessa vagareza, nesse andamento diminuto, há desejo de conciliar lonjuras e aproximar sabedoria... De estar acompanhada por companhia, e não pela falta que sinto dela, da saudade intrigada com a ausência.

carladias.com

Comentários

Juliêta Barbosa disse…
Carla,

É fácil te fazer companhia e entre um gole e um toque estreitar laços... O teu alfabeto está repleto de palavras que encantam, seduzem, cativam.

Tens companhia, hoje, e pelos 24 meses que virão, pois a saudade que fica nos torna proprietários das tuas memórias. Esperamos por elas com infinito carinho e respeito. Bjs.
Anônimo disse…
Carla,

Sou fã incondicional da sua escrita. Encontro-me nela cada vez mais. Obrigada por traduzir em poesia as coisas que sinto.
E olha, a muito tempo já puxei a cadeira.
Toca(n)tins, bens e tais... palmas para você.

Adriana
Itabuna-Ba
Carla Dias disse…
Juliêta... Obrigada pela sua companhia : )
E beijos!

Adriana... Eu que te agradeço por tanta gentileza assim... Além de ler meus escritos, encontrar-se nele. E essas cadeiras, minha cara, são ótimas de serem puxadas. Sinta-se em casa.

José Maria... Seja bem-vindo! Vou passar lá pelo seu blog, ok? Obrigada por ter aparecido pelo Crônica do Dia. Um Natal muito especial para você! Abraço!
albir disse…
Certo, Carla,
Não me levanto mais.
Feliz natal.
Carla Dias disse…
Fênix...

Albir... Ah, sim! Levante-se para se espreguiçar : )

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